Comunicadores(as) em visita ao coletivo Jovens de Expressão, de Ceilândia (DF). Foto: Julia Noleto Tossin/Coletivo 105

Comunicadores(as) em visita ao coletivo Jovens de Expressão, de Ceilândia (DF). Foto: Julia Noleto Tossin/Coletivo 105

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Vozes do Gurupi reúne jovens indígenas em formação sobre comunicação

O evento incluiu visitas a espaços culturais e veículos de comunicação, culminando em três dias de atividades formativas em Brasília

O encerramento da formação presencial  “Vozes do Gurupi”, realizado entre os dias 8 e 11 de outubro, em Brasília (DF), contou com a participação de 15 comunicadores indígenas de Terras Indígenas do Mosaico Gurupi e de organizações indígenas regionais. Essa última etapa formativa foi dedicada ao uso estratégico de ferramentas de comunicação na produção de conteúdos midiáticos, com uma série de atividades pedagógicas e visitas a espaços culturais e veículos de comunicação.

A formação faz parte do projeto de Gestão e Restauração das Terras Indígenas do Mosaico Gurupi, que visa consolidar uma rede de gestão e restauração sustentável na região. O projeto é uma iniciativa conjunta do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima), com apoio financeiro do Programa Copaíbas, do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

A formação Vozes do Gurupi

Participantes do segundo módulo que aconteceu em São Luís, entre os dias 23 a 26 de setembro de 2024. Foto: Julia Tossin Noleto/Coletivo 105

Dividida em três módulos, a formação “Vozes do Gurupi” teve como objetivo fortalecer a gestão e a comunicação institucional de nove associações indígenas do Mosaico Gurupi, um conjunto de áreas protegidas que se estende pela Amazônia no Maranhão e no leste do Pará. O primeiro módulo, realizado em agosto, em Imperatriz (MA), focou na capacitação de gestores das associações em gestão de projetos. Em setembro, o segundo módulo, realizado em São Luís (MA), abordou o planejamento estratégico e a elaboração de planos de comunicação. 

Para Paula Guajajara, gestora da associação Nairuy Taw da TI Araribóia, o curso foi de suma importância para a elaboração de planejamento e estratégias de execução de um bom projeto.

“Tudo isso tem um impacto muito positivo no fortalecimento da nossa autonomia na gestão dessas iniciativas, nas nossas comunidades”, afirmou. 

Já o terceiro e último módulo presencial, realizado em Brasília, concentrou-se em capacitar os comunicadores no uso de ferramentas de comunicação para a produção de conteúdo. Os três módulos da formação foram conduzidos pelo Coletivo 105, organização parceira, com expertise em comunicação comunitária e produção audiovisual voltada para povos indígenas.

 

A importância da comunicação estratégica

Aoshi Kearun, do Coletivo 105, dá instruções a André Tembé, comunicador da associação AMIG, da TI Alto Rio Guamá (PA), sobre o uso do gimbal, um dos equipamentos doados aos comunicadores pelo projeto Gestão e Restauração. Foto: Julia Tossin Noleto/Coletivo 105

A formação ressaltou a importância de uma comunicação estrategicamente planejada como ferramenta essencial na luta pelos direitos indígenas e na gestão ambiental e territorial de seus territórios. O objetivo é promover o aprendizado das associações para que, por meio da comunicação, possam amplificar suas ações e articulações, fortalecendo a gestão e a restauração das florestas no Mosaico Gurupi.

Durante o curso, os participantes aprenderam sobre fotografia, produção textual em diversos gêneros, incluindo o jornalístico, uso de Inteligência Artificial no desenvolvimento de conteúdos, edição gráfica com Canva e produção audiovisual com celulares. Cada participante recebeu um smartphone e um gimbal para auxiliar na criação de seus materiais.

 

Visitas a espaços culturais e de mídia no Distrito Federal

Edneia Krikati, em primeiro plano, e Ixoi Guajá, em segundo plano, durante a visita aos estúdios da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Foto: Julia Tossin Noleto/Coletivo 105

Os comunicadores visitaram importantes espaços culturais e de comunicação em Brasília, coletando informações e interagindo com produtores de conteúdo. Entre as visitas, destacam-se o coletivo Jovens de Expressão, grupo de jovens comunicadores populares de Ceilândia; o Cine Brasília, onde assistiram ao encerramento da mostra de filmes socioambientais “Ecofalante”; e o Memorial dos Povos Indígenas, onde visitaram a exposição dos 30 anos do Fundo Ecos. Também estiveram no escritório do ISPN e na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), onde foram entrevistados no programa Tarde Nacional, da Rádio Nacional da Amazônia.

“Foi muito bom ser entrevistada nesse espaço de grande importância e poder falar sobre nossas lutas  nos territórios. Esses espaços também precisam ser ocupados por nós, indígenas”, afirmou Djelma Guajajara, ao comentar sua participação na EBC.

Comunicadora Djelma Guajajara da TI Rio Pindaré, durante entrevista na EBC. Foto: Julia Noleto Tossin /Coletivo 105

Para João Guilherme Nunes Cruz, coordenador do Programa Povos Indígenas do ISPN, a formação representa um momento importante na consolidação do projeto Gestão e Restauração.

“Essa formação foi o ponto de partida para estimular a criatividade de cada comunicador e comunicadora, mostrando como a comunicação pode ser uma ferramenta estratégica na defesa dos direitos indígenas e na gestão ambiental dos seus territórios”, destacou João Guilherme. 

Completada todas as etapas de formação, os comunicadores e comunicadoras vão atuar diretamente na execução dos projetos das associações indígenas do projeto Gestão e Restauração de Terras Indígenas do Mosaico Gurupi, sendo os/as responsáveis pelas ações de comunicação institucional para dentro e fora dos seus territórios. Até abril de 2025, os comunicadores e comunicadoras passarão para etapa virtual da formação e serão acompanhados (as) pelo Coletivo 105, em formato de tutoria. 

Saiba mais sobre o Mosaico Gurupi

O Mosaico Gurupi é um conjunto de áreas protegidas que cobre cerca de 46 mil km² entre o Maranhão e o leste do Pará, composto pela Reserva Biológica do Gurupi e terras indígenas como Alto Turiaçu, Awá, Caru, Rio Pindaré, Araribóia e Alto Rio Guamá. Essa região é habitada pelos povos Guajajara, Awá-Guajá, Ka’apor e Tembé, e abriga a maior área conservada da Floresta Amazônica no Maranhão e leste do Pará, desempenhando um papel vital na manutenção da biodiversidade, com destaque para espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e a ararajuba.

Apesar de sua importância socioambiental, o Mosaico Gurupi enfrenta graves ameaças, como o desmatamento e a invasão de terras, que colocam em risco tanto o ecossistema quanto os direitos dos povos indígenas da região.

Autoria: Andreza Baré / Assessoria de Comunicação ISPN

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