
Programação do evento conta com oficinas educativas, rodas de conversa e apresentações artísticas
A pluralidade da agricultura familiar e camponesa e as nuances da biodiversidade e da cultura alimentar brasileira integram o formato online da 3ª edição do Terra Madre Brasil (TMB), que acontece entre os dias 17 e 22 de novembro de 2020.
O evento conta com a correalização do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural/Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (SDR/CAR). A programação integra o evento internacional Terra Madre – Salone del Gusto 2020, lançado entre os dias 8 e 12 de outubro, e segue por seis meses até abril de 2021, período em que acontece o Congresso Internacional do Slow Food.
Para conferir a programação completa do evento, clique aqui.
Agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, queijeiros, meliponicultores, quilombolas, indígenas, povos e comunidades tradicionais, ativistas, jornalistas e cozinheiros que compõem o diverso mosaico da rede Slow Food encontram-se virtualmente no Terra Madre Brasil 2020.
“Por conta da pandemia, optamos por manter o evento este ano mudando o formato. Desta forma o movimento Slow Food no Brasil pode seguir com força e novo fôlego em 2021”, avalia Valentina Bianco, coordenadora de parcerias institucionais da Associação Slow Food do Brasil.
Apesar da lacuna de atividades presenciais, a organização do evento enxerga oportunidades neste novo formato. “Inúmeros pontos que devem ser colocados como vantajosos como a ampliação do alcance do evento, a possibilidade da sua extensão e também a ideia de já nascer em um ambiente onde as escolhas e o consumo são feitos de forma consciente”, destaca Guilherme Cerqueira Martins e Souza, coordenador de Inteligência de Mercado do Projeto Bahia Produtiva, realizado pela CAR.
Programação
Para esta edição foram inseridos três eixos que norteiam toda a programação: Cultura Alimentar e Biodiversidade, Educação Alimentar, Segurança Alimentar e Nutricional e Alimentação Escolar e Incidência Política e Mobilização da Sociedade Civil. O Terra Madre Brasil coincide no dia 20 de novembro com o Dia da Consciência Negra, e terá uma programação dedicada à Diáspora e Culinária Afrobrasileira.
Entre as atividades estão 15 Rodas de Conversa com integrantes da rede Slow Food Brasil — de comunidades rurais e urbanas — e de organizações parcerias para debates e fortalecimento de iniciativas conjuntas dos três eixos temáticos. A programação conta com 2 grandes Diálogos, espaços de problematização, reflexão coletiva e inspiração sobre o sistema alimentar e seus impactos na cultura alimentar, na justiça social e no equilíbrio ecológico, com a participação de ativistas e formadores de opinião.
Rodas de Conversa, Diálogos e Oficinas do Gosto
As Rodas de Conversa iniciam no dia 17/11, às 14h, com uma Mesa de Abertura composta pela ativista Bela Gil, Georges Schnyder (presidente da Associação Slow Food do Brasil), Dionete Figueiredo (referência da Fortaleza Slow Food do Baru e liderança da cooperativa Copabase/MG), Wilson Dias (Presidente – Diretor da CAR) e saudações de Carlo Petrini (fundador do movimento Slow Food).
Às 16h acontece a Roda de Conversa Ferramentas de reconhecimento do patrimônio e da cultura alimentar (MAPA, FAO, IPHAN, Slow Food) e às 18h, o encontro virtual sobre Cultura alimentar e políticas públicas, mediado por Lina Luz (Escola de Gastronomia Social – CE), que terá entre os participantes Tainá Marajoara (Ponto de cultura Iacitátá – PA) e Célio Turino (responsável pela criação do Programa Cultura Viva, política do Ministério da Cultura 2004-2010).
O modelo de Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) também figura entre os temas que integram as Rodas de Conversa no dia 18/11, às 14h. Os CSAs têm como proposta transformar consumidores em voz ativa de um sistema de compra mais justo e sustentável. Entre os participantes confirmados estão Rafael Coimbra, Wagner Ferreira dos Santos e Claudia Vivaqua.
O dia 20/11 é dedicado ao eixo temático Diáspora e Culinária Afrobrasileira. Das 16h às 17h30 acontece o Diálogo Comida de Terreiro. O bate-papo aborda a importância cultural dos ingredientes que ganham significado espiritual entre as regiões de matriz africana. A conversa é inspirada nos saberes originários de experiências simbólicas nos terreiros.
As histórias das mulheres negras na cozinha e a forte identidade da mulher negra nascida no início do século 20 inspirou a criação do livro As mulheres das Colheres de Pau, ainda não publicado. Essa temática cultural será o tema central do encontro A Resistência das Mulheres Negras: alimento que resiste, alimento que conecta, que acontece das 18h às 19h30.
No dia 21/22, às 11h, o Diálogo Alimentando Pandemias, com a participação já confirmada da ativista e jornalista Soledad Barruti (Argentina), e dos pesquisadores Beta Recine (DF) e Paulo Artaxo (SP), propõe reflexões sobre a pandemia global que compromete nosso futuro: obesidade, desnutrição, colapso climático e covid-19.
Ainda na programação do fim de semana, o Diálogo Outros Caminhos Possíveis traz caminhos de inspiração e resiliência a partir da interligação entre comida, natureza e sociedade. Outros modos de viver e se organizar, tendo a centralidade do alimento como premissa, pelo olhar de Jera Guarani (cosmologia Guarani) e Tiganá Santana (cosmologias bantu), entre os participantes já confirmados, com a mediação de Frei Betto.
O espaço educativo será composto por uma programação que envolve 16 atividades, entre laboratórios para crianças e oficinas do gosto, promovendo a aproximação entre cozinheiras e cozinheiros da rede Slow Food que atuam na valorização dos biomas e ecossistemas brasileiros e representantes de comunidades rurais engajadas na salvaguarda de alimentos que integram a Arca do Gosto: catálogo internacional de alimentos de origem vegetal, animal e produtos beneficiados que são fruto de técnicas e conhecimentos tradicionais e compõem a sociobiodiversidade brasileira.
Entre os ingredientes do catálogo estão os frutos do bioma Caatinga como umbu, maracujá da caatinga e licuri – todos eles serão utilizados e apresentados na Oficina do Gosto: bioma Caatinga. As raças nativas de caprinos e ovinos e as técnicas de conservação ligadas à manta de bode serão o foco principal da oficina conduzida pela cozinheira Bruna Moreira, nascida no interior da Bahia na região do semiárido. A atividade é seguida de um bate-papo com Denise Cardoso, nascida na comunidade tradicional de Fundo de Pasto de Caladinho, interior de Curaçá, Bahia, e presidenta da Cooperativa Coopercuc, que integra a Fortaleza do Umbu e do Maracujá da Caatinga, com a mediação do pesquisador Marcelo Terça-Nada.
As diferenças entre os Méis de Abelhas Nativas e das originárias de abelhas apis serão o tema central da Oficina do Gosto mediada por Carlos Alexandre Demeterco (facilitador do Slow Food Brasil e mestre em agricultura no trópico úmido) com participação do casal de agricultores familiares Salete e Benedito, criadores de abelhas nativas em Mandirituba -PR e do cozinheiro Rodrigo Bellora, do restaurante Valle Rústico (Vale dos Vinhedos – RS).
Apresentações artísticas
O Terra Madre Brasil conta também com uma rica programação apresentações artísticas, entre documentários, show, filmes e bate-papos, que ocorrerão no final do dia, a partir das 19h30. Já confirmaram presença nomes como Chico César (dia 17/11, das 19h30 às 20h30) e Alessandra Leão (dia 22/11 das 19h30 às 20h30). No dia 19/11, das 19h30 às 20h30 é dia de Slow Food no Filme com a estreia do documentário Dois Riachões: Cacau e Liberdade.
Ainda integrarão a plataforma e conteúdo do Terra Madre Brasil 2020 um mapa interativo dedicado às Comunidades Slow Food, à Agricultura Familiar e às Indicações Geográficas e uma instalação artística que busca reproduzir o universo da mandioca e da produção de farinhas. A Casa de Farinha tem como recorte a região Norte, centro de origem da mandioca; o Nordeste, com as casas de farinha e o Sul, com a presença dos engenhos. Nesse espaço serão valorizados os aspectos patrimoniais, de segurança alimentar e nutricional e da cultura alimentar que permeiam os territórios onde as farinhas são produzidas a partir de técnicas e saberes tradicionais.
Sobre o Slow Food Brasil
O Slow Food surge protestando contra a primeira loja do McDonald’s na Itália, em 1986, em contraposição política, simbólica e filosófica ao fast-food e o que esse modelo alimentar representa: a padronização massiva da alimentação de má qualidade, o modelo agrícola químico-dependente de produção em larga escala e as condições injustas de trabalho.
Os ativistas e defensores da filosofia Slow Food integram os núcleos de ação local denominados Comunidades Slow Food, que reúnem pessoas de várias esferas e com diversos interesses sobre o alimento. Esses grupos tecem uma rede alimentar com potencial para pensar e construir alternativas ao sistema alimentar vigente a níveis local, regional e global.
No Brasil, o movimento chegou pelo Rio de Janeiro no ano 2000, e realizou suas primeiras duas edições do Terra Madre respectivamente em 2007 e 2010, ambos em Brasília. Desde 2013 a rede Slow Food Brasil conta com o apoio institucional da Associação Slow Food do Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que atua como guardiã dos programas, da filosofia e da marca do Slow Food no Brasil.
Sobre a CAR
Com a missão de promover o desenvolvimento regional por meio da inclusão socioprodutiva, o Governo da Bahia, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, vem se empenhando fortemente no combate à pobreza em comunidades rurais, priorizando o fortalecimento da agricultura familiar, economia solidária, comercialização, territorialização, segurança hídrica, convivência com a seca, e o gerenciamento sustentável do meio ambiente.
A CAR tem apostado nas potencialidades regionais, incentivado associações e cooperativas que investem em atividades e produtos capazes de gerar efetivamente emprego e renda, e estimula o desenvolvimento de diversas cadeias produtivas, tais como a apicultura, caprinocultura, fruticultura, ovinocaprinocultura, a produção de chocolate e o beneficiamento de leite.