Fruto de uma construção coletiva que contou com mais de 100 representantes de povos e comunidades tradicionais, material traz perspectivas para o tema no Brasil
Como o turismo pode gerar renda, promover a conservação ambiental e a manutenção dos modos de vida em territórios de povos e comunidades tradicionais? Essa é a pergunta que a publicação “Turismo de Base Comunitária aliado à Gestão Territorial e Ambiental – Tecendo Redes e Caminhos” busca responder.
Lançado nesta quinta-feira, o material é fruto de uma parceria entre o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com o curso de Turismo Patrimonial da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a Associação Quilombola Kalunga do Mimoso (AKMT).
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O Turismo de Base Comunitária (TBC) é uma estratégia de resistência frente às pressões provocadas pelo turismo de massa, pesca ilegal, exploração do trabalho, especulação imobiliária e conflitos fundiários, destaca o material.
A publicação, que tem como objetivo subsidiar a elaboração de políticas públicas e ser uma contribuição para as discussões sobre iniciativas comunitárias de turismo no país, é resultado de um seminário sobre o tema, realizado em outubro de 2022, na cidade de Arraias, Tocantins.

Na ocasião, mais de 100 lideranças comunitárias, entre quilombolas, indígenas, pescadores artesanais, assentados da reforma agrária e outras, de quatro regiões e nove estados do país, estiveram presentes, trocando experiências e lições aprendidas com o TBC.
Experiências comunitárias
Dormir dentro de um território indígena ou quilombola. Almoçar um alimento que foi cultivado e colhido ali ao lado pelo anfitrião. Andar de canoa. Fazer trilha e visitar cachoeiras locais mantidas por comunitários. Ouvir histórias. Essas são algumas das experiências do TBC.
No quilombo Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, em São Paulo, por exemplo, o líder quilombola Benedito da Silva, seu Ditão, e sua companheira Elvira, trabalham com etnoturismo, trazendo um resgate histórico da luta quilombola em rodas de conversas e caminhadas pelo quilombo. As práticas comunitárias também envolvem a agricultura familiar e o cuidado com o meio ambiente.
“Os municípios e comunidades locais podem se organizar melhor para decidir quais tipos de turismo pretendem incentivar em suas áreas, assim como para atender às expectativas dos turistas oferecendo serviços com base no protagonismo comunitário em consonância com os diferentes nichos de mercado”, explica o material.
Segundo os princípios do TBC, é a comunidade quem decide o que pode e o que não pode ser feito dentro do território. As decisões devem ser coletivas, tomadas por meio de assembleias, e a renda gerada pelo turismo deve ser distribuída de acordo com o que foi determinado coletiva e previamente, dando prioridade à criação de um fundo associativo.
“É importante manter a naturalidade: não criar atrativos artificiais, que não fazem parte da cultura das comunidades”, diz trecho do material, acrescentando ainda a perspectiva voltada para a conservação ambiental e a justiça social.
Territórios
Além desses ganhos, ainda há a questão da proteção territorial. Diante dos diversos conflitos por terra existentes no país, acirrados nos últimos quatro anos, o TBC desponta também como um instrumento de defesa e conquista de direitos territoriais para os povos e as comunidades tradicionais.
Iracy Soares Sousa Araujo, quilombola do território Kalunga do Mimoso, no Tocantins, defendeu que “o turismo pode colaborar para o reconhecimento do território, já que a maior parte da população não tem a documentação da terra”.
A publicação “Turismo de Base Comunitária aliado à Gestão Territorial e Ambiental – Tecendo Redes e Caminhos” apresenta os seguintes temas:
- Acordos de convivência;
- Partilha de benefícios e operacionalidade;
- Trabalho em rede e roteiros;
- Produtos agregados (cadeia do turismo);
- Comercialização junto às operadoras e às agências;
- Aspectos e valores culturais da comunidade;
- Caminhos para financiamento de projetos de TBC;
- Direitos territoriais e instrumentos legais associados ao TBC.
O seminário que gerou a publicação contou com o apoio do Fundo Amazônia/BNDES, por meio da estratégia do PPP-ECOS, vinculada ao ISPN, que apoiou mais de 700 projetos desde 1994 nos estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Saiba mais sobre a estratégia aqui.
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Texto: Assessoria de Comunicação ISPN/Camila Araujo. Foto de capa: Acervo ISPN/Camila Araujo