Durante as entregas das Casas de Fabricação em novembro de 2024, Eliane Frazão, à esquerda, discursa enquanto segura o alvará de funcionamento com demais lideranças e autoridades presentes no evento. A coordenadora do Programa Maranhão, Ruthiane Pereira (segunda, à esquerda), participou da cerimônia.

Durante as entregas das Casas de Fabricação em novembro de 2024, Eliane Frazão, à esquerda, discursa enquanto segura o alvará de funcionamento com demais lideranças e autoridades presentes no evento. A coordenadora do Programa Maranhão, Ruthiane Pereira (segunda, à esquerda), participou da cerimônia.

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Casas de Farinha são reativadas e ampliam produção em quilombos no Maranhão

Novas estruturas foram entregues para as comunidades e beneficiam 70 famílias quilombolas em Anajatuba (MA) com a produção de 1,6 mil kg de farinha por mês

Depois de quase 10 anos inativas, duas Casas de Fabricação de Farinha voltaram a funcionar em Anajatuba, no Maranhão, que passam agora a ter uma produção mensal estimada em uma média de 1,6 mil kg de farinha torrados pelas famílias quilombolas. Uma unidade de produção está situada no quilombo Quebra, onde a casa beneficia a comunidade local e os quilombos Capim e Bom Jardim, e a outra fica em Pedrinhas. 

Além de ser um elemento essencial da ancestralidade quilombola no Maranhão, transmitido entre gerações, a produção de farinha subsidia a alimentação da comunidade, sendo também uma fonte importante de geração de renda. Ao todo, são 70 famílias contempladas, sendo 40 pela unidade de Quebra e 30 por Pedrinhas. No período da farinhada entre julho e agosto, a produção das casas aumenta, somando até mais de 3 mil kg por mês fabricados nas Casas. 

Apesar do grande potencial da farinha na região, as unidades ficaram desativadas por anos por conta da falta de manutenção na estrutura e de equipamentos para a produção segura. A reforma dos espaços foi feita por meio do projeto Renascimento Agroecológico nos Quilombos, com apoio do Floresta+ Amazônia, executado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) em parceria com a União das Associações Quilombolas das Comunidades Remanescentes de Quilombos (Uniquituba). Quem gerencia os espaços são as próprias associações das comunidades. 

Conforme a liderança comunitária e presidente da Uniquituba, Eliane Frazão, a reativação é um marco, pois a tradição da farinha vai além da culinária, é uma questão intrínseca da história do povo quilombola. “Tem a ver com a história do nosso território, da nossa identidade. Tem a ver também com a nossa segurança alimentar, porque consumimos a farinha e a tapioca. Com o controle mais rigoroso da produção, vamos poder participar das vendas ao poder público e vamos também realizar cursos para aprimorar os nossos conhecimentos e melhorar ainda mais a qualidade”, completou.

Produção de farinha é feita de maneira comunitária pelas famílias quilombolas nas Casas de Fabricação.
Foto: Divulgação/Associação de Moradores de Pedrinhas

O Maranhão está em quarto lugar no ranking de maiores produtores de farinha de mandioca no Brasil, sendo responsável por consumir 18% de toda a produção feita no território nacional, segundo dados do Governo do Estado do Maranhão. “Uma estrutura adequada para nosso trabalho nos traz dignidade. A farinha é parte da nossa tradição, do nosso povo, mas era afetada pela antiga estrutura precária. Nossa casa voltou a fabricar e as famílias quilombolas expandiram o potencial de produção, dentro da nossa tradição”, declara a presidente da Associação de Moradores do Quilombo Quebra, Liliane Martins.  

Liliane Martins em frente à Casa de Fabricação do Quilombo Quebra, que beneficia também os quilombos Capim e Bom Jardim, com uma produção mensal de mais de 1,2 mil kg de farinha.
Foto: Ariel Rocha/Acervo ISPN

O assessor técnico do ISPN Hélio Henrique, que acompanha a execução do projeto no território quilombola, explica que as comunidades tinham o plantio da mandioca, mas a temporada da produção ficou por anos comprometida. “As Casas praticamente não existiam mais e a produção de farinha estava comprometida, sendo feita de outra maneira, nas residências das próprias famílias, sem condições que facilitassem o processo. Agora, a fabricação tem espaço e equipamentos adequados, então, a capacidade de produção foi ampliada de maneira significativa, como os números mostram”, comenta. 

As adequações foram feitas conforme as normas da vigilância sanitária, com a emissão dos alvarás de funcionamento. Esse é um passo fundamental para a obtenção de selos de qualidade, como o Selo Quilombos do Maranhão, que possibilita a comercialização da farinha até fora do país. É uma medida que facilita a comercialização em mercados mais amplos e garante ao consumidor que o produto chegue com os padrões de segurança e sustentabilidade garantidos. 

Hélio Henrique (primeiro à esquerda) durante vistoria na Casa de Fabricação de Pedrinhas, acompanhado pela equipe da Uniquituba e membros da Associação de Moradores. A unidade chega a produzir mais de 400 kg por mês.

A coordenadora do Programa Maranhão no ISPN, Ruthiane Pereira, destaca que as ações do projeto voltadas ao fortalecimento da tradição da farinha nos quilombos contribuem diretamente para a cadeia produtiva da mandioca. “Promover esse melhoramento das Casas de Farinha é uma preservação dos saberes ancestrais, mas, além disso, essas ações garantem autonomia para as comunidades quilombolas, valorizam a agricultura familiar e promovem a geração de renda de forma sustentável”, explica. 

Projeto Floresta+ Amazônia 

Em Anajatuba, além dos quilombos beneficiados pelas reformas das Casas de Fabricação de Farinha, demais ações do projeto Renascimento Agroecológico nos Quilombos, voltadas ao melhoramento de quintais e roçados agroecológicos, também englobam os quilombos Pedrinhas II; Centro do Isidório; Ponta Bonita; São Pedro e Ilhas do Teso. Outro projeto, também quilombola, o Quintais Produtivos de Cariongo, é realizado no Quilombo Cariongo, no município de Santa Rita (MA), em uma parceria entre o ISPN e a Associação dos Agroprodutores Rurais da Vila Cariongo. 

Ainda no âmbito do projeto Floresta+ Amazônia, outras iniciativas são executadas pelo ISPN no Maranhão, com o povo Guajajara, nas duas Terras Indígenas (TIs). O projeto Prevenção e combate ao fogo: Produção e troca de conhecimentos entre brigadas indígenas na TI Caru conta com a parceria da Associação Indígena Comunitária Wirazu. Já o projeto Mulheres Guajajara: Proteção da Floresta e dos Saberes, na TI Arariboia, é desenvolvido com a Associação Comunitária Nayrui Taw das Aldeias Tarumâ, Chupé e Lagoa Quieta.

O Floresta+ é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com apoio do Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund – GCF). 

 

Texto: Ariel Rocha/Assessora de Comunicação do ISPN

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