Painel da Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária realizada em Recife (Foto: IIED)

Painel da Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária realizada em Recife (Foto: IIED)

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Povos e comunidades tradicionais devem liderar resposta à crise climática

19ª Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária às Mudanças Climáticas (CBA19) e 13º Congresso GIFE destacam soluções locais e o papel da filantropia comunitária no combate à emergência climática

Enquanto o mundo debate metas globais de redução de emissões de gases do efeito estufa, um consenso aparece em dois eventos sobre clima e filantropia realizados no Brasil em maio: povos indígenas, comunidades tradicionais e populações periféricas devem ser protagonistas nas estratégias e implementação das ações de adaptação climática. Eles são os primeiros afetados – e os que detêm saberes ancestrais para enfrentar a crise e precisam ter acesso aos recursos necessários.

Dados do Sexto Relatório do IPCC (2022) fundamentam a urgência: na última década, moradores de áreas vulneráveis morreram 15 vezes mais em eventos climáticos extremos (secas, enchentes, tempestades) que populações de regiões com infraestrutura adequada.

Nesse contexto, a 19ª Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária  às Mudanças Climáticas (CBA19) – realizada de 12 a 16 de maio em Recife (PE) – e o 13º Congresso GIFE – de 7 a 9 de maio em Fortaleza (CE) – colocaram o foco em soluções locais e no papel estratégico da filantropia de base comunitária.

O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), membro da Aliança dos Fundos Socioambientais do Sul Global e da Rede Comuá, participou nos dois encontros para trocar experiências, fortalecer a atuação em rede e destacar a importância da filantropia comunitária como um caminho para fortalecer organizações locais protagonizadas por povos indígenas, povos tradicionais, mulheres e jovens, ampliando o acesso a um financiamento adequado para a promoção da justiça socioambiental e climática.

“Em um momento em que observamos retrocessos globais na pauta ambiental, participar de um espaço que reúne representantes comunitários e da rede de filantropia de mais de setenta países é motivador para a elaboração de novas soluções para a crise climática”, explica a Gerente de Projeto do ISPN, Terena Castro.

Membros da Rede Comuá e da Aliança dos Fundos Socioambientais do Sul Global reunidos na CBA, em Recife (Foto: Reprodução)

Para a diretora-superintendente do ISPN, Cristiane Azevedo, “é importante olhar para o fluxo de financiamento do Norte para o Sul, para trazer os recursos aos locais em que populações com seus modos de vida tradicionais estão conservando a biodiversidade”.

A CBA, organizada pelo International Institute for Environment and Development (IIED) em parceria com o Governo de Pernambuco e do Instituto Clima e Sociedade (ICS), foi realizada pela primeira vez no Brasil e na América Latina com debates sobre “Ação de adaptação liderada localmente”, tanto na perspectiva “urbana” quanto da “natureza”.

“O evento foi um espaço rico de trocas entre lideranças e organizações de vários países e reforçou a importância das vozes dos territórios, da experiência de povos tradicionais, das periferias, que estão na lida com os impactos diretos da emergência climática”, acrescenta Azevedo. A busca dessas soluções para o alcance de uma adaptação justa e equitativa é uma pauta essencial e importante para ser tratada na COP-30, que também será realizada no Brasil, em Belém.

Congresso GIFE

Já entre os dias 7 e 9 de maio, o 13º Congresso GIFE [Grupo de Institutos Fundações e Empresas] reuniu atores do investimento social privado (ISP) e da filantropia para debater os caminhos inovadores e colaborativos para o desenvolvimento sustentável no Brasil. O evento foi realizado em Fortaleza, no Ceará, sob o tema “Desconcentrar poder, conhecimento e riquezas”.

Congresso GIFE em Fortaleza (CE) reuniu representantes do investimento social privado para debater caminhos da filantropia no Brasil (Foto: GIFE)

Entre os debates fundamentais do Congresso, o destaque fica para a necessidade de apoio direto às pessoas e comunidades que defendem seus territórios, construindo soluções locais e adaptadas às suas realidades – seja no campo ou nas cidades.

Um dos principais alertas do encontro foi a importância de uma relação próxima entre financiadores e comunidades, na qual a escuta ativa dos territórios é essencial para consolidar laços de confiança e, sobretudo, compromisso.

“O caminho para o investimento social privado é a necessidade de investir no desenvolvimento institucional das organizações para que o recurso possa chegar aonde precisa”, explicou a assessora técnica do ISPN Juliana Napolitano.

Integrante da equipe do Fundo Ecos, mecanismo de financiamento do ISPN para promoção de paisagens produtivas ecossociais, Napolitano complementa: “participar do congresso trouxe muitos aprendizados que contribuem para o aperfeiçoamento do nosso trabalho, assim como reforça o papel estratégico que o Fundo Ecos desempenha junto aos povos indígenas, agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais.”

Texto por Camila Araujo / Assessoria de Comunicação do ISPN

Autoria: Camila Araujo

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