Mais uma etapa do projeto “Traçando novos caminhos para o bem viver” foi concluída entre os dias 25 a 30 de julho de 2022. Trata-se da realização da Oficina de Audiovisual para comunicadoras e comunicadores indígenas do projeto, que aconteceu na aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Caru, estado do Maranhão. A oficina é parte de uma série de atividades de comunicação que visam registrar e documentar, via ferramentas do audiovisual, as etapas de realização deste projeto que tem como foco o trabalho inovador das Guerreiras da Floresta na sensibilização dos povoados do entorno do território indígena (saiba mais no final desta matéria). Participaram da atividade sete jovens indígenas, sendo cinco mulheres da aldeia Maçaranduba e dois rapazes da aldeia Januária da Terra Indígena Rio Pindaré. Tais jovens conduzirão a produção de um documentário que vai narrar a experiência do projeto “Traçando novos caminhos para o bem viver”.

Oficina híbrida: virtual e presencial
A condução da oficina ficou a cargo do cineasta Mauro Siqueira, do Coletivo 105, organização que já possui larga experiência na formação de povos indígenas em audiovisual e comunicação. As atividades presenciais na aldeia Maçaranduba foram o encerramento de um processo de formação que começou há mais de dois meses de forma híbrida, via WhatsApp. “Os conteúdos foram disponibilizados previamente para que o encontro presencial fosse totalmente focado nas práticas”, contou Siqueira. Pelo WhatsApp as/os participantes assistiam às videoaulas, realizaram exercícios práticos de vídeos e fotografias e compartilharam no grupo que foi criado para a oficina.
Nos dias de práticas as/os participantes tiveram oportunidade de estudar diversos repertórios de produção e narrativas audiovisuais, especialmente as linguagens de documentário e dramaturgia. “Algo muito interessante que aprendi na oficina foi a regra dos terços, enquadramentos, metades e qualidade nas fotos e nas filmagens, foi uma experiência maravilhosa”, afirmou a jovem Patrícia Guajajara.
A oficina foi conduzida de forma lúdica e didática para que todas e todos pudessem aprender as técnicas do audiovisual de forma leve e tranquila. Fizeram encenações de personagens conhecidos como nas novelas por exemplo, ensaiaram diversos formatos de entrevistas com o entrevistador em cena ou não. “A ideia foi mostrar que as ferramentas do audiovisual não são complicadas quanto parecem e que elas são acessíveis a todas e todos que queiram aprender”, afirmou Mauro Siqueira.

Fortalecimento da autoestima e do protagonismo da juventude indígena
A oficina também abordou um ponto muito importante que envolve o universo da autoestima dos/das jovens indígenas. O nível de familiaridade dos/das participantes com os equipamentos audiovisuais era dos mais diversos, desde aqueles que haviam passado por outros processos de formação, até aqueles que nunca haviam manuseado tais instrumentos, mas isso não foi critério de exclusão. “A oficina não teve como princípio nivelar as idades, as faixas etárias ou nível de conhecimento, para nós o importante é que todo mundo se sinta capaz de fazer uma produção audiovisual”, afirmou Mauro Siqueira. “Observamos que tinha gente ali que não acreditava no seu potencial e que se descobriu muito feliz ao final do processo porque havia conseguido dar conta das atividades que foram feitas com muito prazer pois estava vendo de fato que seu trabalho ficou bonito e apresentável”, completou.
Poliana Guajajara, por exemplo, que já é realizadora audiovisual indígena, conta que um novo aprendizado é sempre necessário. “Apesar de eu já ter participado de outras oficinas de comunicação, esses novos conhecimentos que adquirimos contribuem para que ocupemos os espaços das mídias, assim, poderemos contar as nossas histórias, mostrar as nossas culturas a partir do nosso próprio olhar enquanto, jovens e mulheres indígenas”, afirma.
Maisa Guajajara, uma das coordenadoras do projeto, compartilha desse pensamento enfatizando que esse tipo de atividade desperta o olhar da juventude para o protagonismo das ações de comunicação indígena. “É muito importante que essas ações de audiovisual sejam difundidas na nossa comunidade, por isso esta oficina é parte do nosso projeto Traçando novos caminhos. Temos um trabalho de reverter algumas coisas mal vistas pelo não indígena lá fora, sobre quem somos, sobre a nossa cultura. Por isso essa formação para a nossa juventude é muito importante pois os nossos jovens são os agentes divulgadores da nossa cultura, dos nossos direitos e dos nossos territórios”, aponta.
Para a assessora técnica do ISPN Caroline Yoshida, que acompanha as atividades do projeto, esse tipo de ação contribui para que juventude indígena se some ao trabalho inovador de gestão e proteção territorial realizado pelas Guerreiras da Floresta. “Fazendo uso dessas ferramentas do audiovisual, os/as jovens indígenas poderão não só ser agentes das suas próprias histórias, mas também os/as guardiões/ãs do saber de suas aldeias”, afirma.

Saiba mais sobre o projeto “Traçando novos caminhos para o bem viver”
O projeto “Traçando novos caminhos para o bem viver” tem por objetivo contribuir para a gestão e proteção ambiental e territorial, por meio do fortalecimento das ações de sensibilização desenvolvidas pelas Guerreiras da Floresta no entorno da Terra Indígena Caru. A iniciativa oferta aos povoados do entorno da TI Caru uma pequena linha de financiamento via microprojetos, para desenvolvimento de iniciativas produtivas como hortas, roças e frutíferas/quintais; reflorestamento/viveiros e pequenas criações de animais de pequeno porte. A ação se configura numa importante ajuda para essas comunidades a fim de que desenvolvam suas atividades produtivas, ao mesmo tempo colaborem com a conservação ambiental e os meios de vida dos territórios indígenas. A execução do projeto é das Guerreiras da Floresta da TI Caru em parceria com a associação Wirazu e o ISPN. Conta ainda com o apoio financeiro da Rede de Filantropia para a Justiça Social (RFJS).
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