Fruto do Curso de Formação de Gestores de Projetos, a Revista Wiráhu teve como protagonistas na elaboração os próprios jovens cursistas indígenas do povo Guajajara das Terras Indígenas Rio Pindaré e Caru (Maranhão). Em seu terceiro e quarto volumes, que foram lançados no final de setembro deste ano, a publicação culminou numa coletânea com quatro edições que apresenta a experiência vivenciada ao longo da formação e também seus modos de vida, cultura e território. O nome da revista é na língua Guajajara e faz referência ao pássaro Gavião, bem comum na região.
“Nas revistas, estão sintetizados temas trabalhados, atividades realizadas, metodologias e resultados obtidos em cada etapa do curso, por meio de fotografias, textos e desenhos produzidos pelos próprios indígenas”, explicou a coordenadora do Subprograma de Fortalecimento Institucional do Plano Básico Ambiental – Componente Indígena (PBACI), Suely Cardoso. Tanto o Curso de Gestores quanto a produção da Revista Wiráhu são iniciativas no âmbito do PBACI, tendo o ISPN como parceiro implementador.
Weldeson Guajajara, de 26 anos, que foi aluno do Curso de Formação de Gestores e, agora, estuda Ciências Sociais na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), sente-se orgulhoso de ter participado e contribuído com a publicação. “A partir da revista, a gente passou a ser reconhecido pelas instituições, deu uma credibilidade muito grande pra gente. Pois, não somos como a narrativa colonialista coloca. A gente tem interesse pela educação, pela leitura, sim. É a nossa voz sendo narrada na revista. É nossa autonomia, de ver e escrever a partir da nossa comunidade para o mundo. É uma forma da gente escrever sobre nós mesmos”, ressaltou.
“Ali (na revista) contamos um pouco da nossa realidade enquanto comunidade, e do nosso território. A revista sai da aldeia e ganha o mundo, pois podemos repassar pra todos que somos os verdadeiros protagonistas da nossa própria vivência”, falou empolgada a jovem e ex aluna do Curso de Formação, Francisca Guajajara, que atualmente cursa Ciências Agrárias na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Campus de Bacabal.

Os quatro volumes da Revista Wiráhu podem ser encontrados no formato impresso e digital. A publicação impressa encontra-se disponível para doação no escritório do ISPN em Santa Inês – MA. E, para fazer download dos arquivos digitais: clique aqui!
Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos
O Curso de Formação de Gestores Indígenas de Projetos foi organizado em cinco módulos com 1.500 horas aulas teóricas e práticas, que aconteceram em Santa Inês – MA e nas aldeias dos jovens, entre anos de 2016 e 2018. A iniciativa ainda contou com a parceria da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e envolveu 20 jovens do povo Guajajara das Terras Indígenas Rio Pindaré e Caru.

O Curso de Formação adotou o formato de alternância, que consiste em módulos presenciais, 20 dias cada, com intervalo de dois meses e cinco etapas de dispersão, nos quais os cursistas realizaram atividades práticas em suas aldeias. “O envolvimento da juventude indígena contribuiu para ampliar o conhecimento Guajajara acerca da gestão organizacional, elaboração e implementação de projetos, para a qualificação da atuação de gestores e lideranças em suas organizações, bem como o fortalecimento de diálogos com organizações governamentais e não governamentais”, esclareceu Suely Cardoso.
Hoje, os cursistas são intitulados como Gestores de Projetos. Alguns estão nas universidades públicas em cursos nas áreas das ciências agrárias, ciências sociais, ciências aplicadas e exatas. Outros estão atuando em espaços políticos, como na associação comunitária indígena e nos movimentos indigenistas, tornando-se referências e potenciais lideranças no território.
“O Curso de Formação mudou sua vida e ampliou seu saber sobre o mundo. “O curso trouxe conhecimentos riquíssimos que vou levar pro resto da minha vida. Depois do curso, comecei a ajudar minha comunidade e a participar de muitos movimentos, como a COIAB¹, conselheira do CONDEF² e também fazendo parte do grupo de mulheres da Terra Indígena Rio Pindaré. Sou universitária e, hoje, já tenho um trabalho como agente administrativo em uma das escolas da aldeia. E, tudo isso é muito gratificante pra mim”, enfatizou Francisca Guajajara.

Sobre o PBACI – O Plano Básico Ambiental – Componente Indígena (PBACI) dos povos Awá Guajá e Guajajara das Terras Indígenas Rio Pindaré e Caru é um instrumento condicionante para o licenciamento ambiental do projeto de Expansão da Estrada de Ferro Carajás (EEFC) de responsabilidade da empresa Vale S.A, conduzido pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sendo o ISPN a organização implementadora.
¹Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
²Conselho Deliberativo e Fiscal (CONDEF) da COIAB, composto por 64 conselheiros/as das regiões de base da COIAB na Amazônia Brasileira.