Equipe ISPN Maranhão, Brasília e parceiros institucionais. Foto: Andreza Andrade/ISPN
Equipe ISPN Maranhão, Brasília e parceiros institucionais. Foto: Andreza Andrade/ISPN
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Maranhão
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ISPN e parceiros celebram dez anos de fortalecimento de ações com povos indígenas e comunidades tradicionais no Maranhão
Evento contou com participação de parceiros, retrospectiva história da atuação do instituto no estado e apresentações culturais de povos apoiados.
A força dos tambores e das cantorias das Caixeiras de Maria Caixeira, grupo cultural de Pindaré Mirim (MA), abriu os festejos dos 10 anos de instalação do escritório do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) em Santa Inês, no Maranhão. O evento aconteceu no último dia 31 de agosto, no auditório do Centro Cultural Engenho Central, em Pindaré Mirim. Além das apresentações culturais, o evento também contou com uma mesa de falas institucionais formada por parceiros do instituto.
Parte da equipe do escritório do instituto em Brasília participou da cerimônia e uniu-se ao pessoal de Santa Inês e a parceiros do ISPN para contar um pouco dos aprendizados e avanços em uma década de atuação para o fortalecimento comunitário e de organizações sociais de indígenas, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas e agricultores familiares em terras maranhenses.
O ISPN chegou ao Maranhão, em 2013, após aceitar proposta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para gerir recursos de responsabilidade social da mineradora Vale, em diálogo com organizações e lideranças indígenas impactadas pela operação da Estrada de Ferro Carajás. Anteriormente, esses recursos eram administrados pela própria Funai e o ISPN abraçou o desafio de geri-los e contribuir para o fortalecimento da autonomia dos povos indígenas. Durante o evento, uma mesa formada por representantes do ISPN e parceiros relembrou essa trajetória marcada por desafios e conquistas no campo socioambiental no Estado do Maranhão.
“Com o convite da Funai para fazer a gestão desses recursos, o acordo de cooperação Vale-Funai, achamos que valia a pena fazer de uma maneira diferente. Tentar fazer esse trabalho da forma do ISPN. Todo esse processo, seja com os indígenas, seja com os quilombolas, seja com as quebradeiras de coco babaçu, aqui no Maranhão, segue essa mesma ideia do ISPN de fortalecimento das organizações sociais locais. Queremos fortalecer essas organizações para que elas falem em seu próprio nome e assim, também, temos uma rede de parceiros muito grande de organizações sociais aqui do Maranhão”, afirmou o coordenador executivo do ISPN, Fábio Vaz, durante o ato de celebração.
Mesa de falas institucionais. Da direita para a esquerda: Fabio Vaz (ISPN), João Guilherme Nunes Cruz (ISPN), Ruthiane Pereira (ISPN), Raimundo Alves (Didi) da Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), Antônia Cariongo (Quilombo do Cariongo), Edilson Brito(Centro Cultural do Engenho Pindaré Mirim), Itaam Pastor Santos (Universidade Estadual do Maranhão-Uema) e Sandro Moreti Costa (Vale). Foto: Andreza Andrade/ISPN
A cidade de Santa Inês, na microrregião maranhense do Pindaré, a 250 quilômetros da capital São Luís, foi escolhida para receber o escritório do ISPN pela proximidade com os territórios dos povos e comunidades a serem atendidas pelo fundo do Acordo de Cooperação entre a Vale, Funai e as organizações indígenas. Na ocasião do evento, a coordenadora do escritório do ISPN no Maranhão, Ruthiane Pereira, destacou o fortalecimento das parcerias e da visibilidade do público atendido pelo instituto.
“Ao longo dessa caminhada, aprendemos juntos e, com isso, estabelecemos um foco: levar a transformação e poder apoiar e dar visibilidade aos povos indígenas e às comunidades tradicionais, que são nossos parceiros”, afirmou.
A partir da instalação do escritório do ISPN no Maranhão, o instituto ampliou sua atuação em comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, agricultores familiares e povos indígenas, como os Awá Guajá, os Ka’apor e os Guajajara, no entorno da obra de expansão da Estrada de Ferro Carajás. A instituição, então, passou a promover ações de fortalecimento de organizações comunitárias, revelar lideranças, ampliar a participação nos espaços políticos institucionais, estimular a capacidade de interlocução com o poder público e a capacidade de gestão de seus territórios. Presente no evento, Antônia Cariongo, a liderança quilombola do município de Santa Rita, destacou na sua fala, os aprendizados adquiridos a partir da parceria estabelecida com o instituto.
“Eu sou fruto dessa instituição que me formou e me ensinou quais eram os caminhos para buscar o direito do meu povo quilombola. Se hoje eu sou uma liderança com o conhecimento que eu tenho, eu devo isso ao ISPN. Eu aproveitei cada oficina que esse instituto ofereceu, quando durante quatro anos ele ficou dentro da minha comunidade desenvolvendo projetos. Então, eu sou fruto desse instituto e tenho um imenso respeito pelo trabalho do ISPN”, destacou.
Em 2017, o Acordo de Cooperação passou a chamar-se Termo de Cooperação e Compromisso (TCC) e, a partir daí, os recursos vêm, cada vez mais, e em maior volume, sendo geridos pelas organizações indígenas locais, conforme os seus próprios planos.
“Nesses últimos dez anos, a parceria da Vale com o ISPN representou uma mudança, na forma do relacionamento da Vale com os povos indígenas, com comunidades tradicionais aqui do Maranhão. Posso citar avanços dos povos indígenas no sentido da proteção territorial, no etnodesenvolvimento, no fortalecimento institucional, cultural, então, da autonomia mesmo. Hoje eles já fazem a gestão dos próprios recursos, implementam alguns projetos, eles tocam obras; tudo isso é fruto do trabalho dessa equipe do ISPN”, afirmou Sandro Moreth Costa, analista de Relacionamento com Povos Indígenas da Vale, Sandro Moreth Costa, durante o evento.
Em 2018, o ISPN reestrutura a sua atuação e passa a organizar-se em cinco Programas, dois dos quais com atuação direta no Maranhão: o Programa Maranhão e o Programa Povos Indígenas. Nesse mesmo ano, o instituto passa a integrar a Secretaria-Executiva do Mosaico Gurupi, uma articulação para criação de um conjunto de áreas protegidas que abriga a maior área de Floresta Amazônica conservada no Maranhão, composta por uma Reserva Biológica e mais seis Terras Indígenas.
“Eu me sinto abençoado pela oportunidade de trabalhar com os povos indígenas deste Estado. O trabalho não é fácil, mas estamos conquistando muitas coisas e conquistando com os nossos parceiros das comunidades indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais da agricultura familiar. Estamos fortalecendo essa aliança com esses povos que estão conservando os biomas do nosso país e contribuindo com o equilíbrio climático e para o bem viver deles e o nosso”, ressaltou durante sua fala, o coordenador do Programa Povos Indígenas, João Guilherme Nunes.
Hoje o escritório do ISPN em Santa Inês possui equipe interdisciplinar de 25 colaboradores. A atuação do ISPN permanece com foco na articulação de políticas públicas e na adoção de ideias inovadoras para garantir a sustentabilidade de comunidades tradicionais, das quebradeiras de coco babaçu, das comunidades quilombolas e dos povos indígenas no Estado do Maranhão.
As atrações culturais
Caixeiras de Maria Caixeira, grupo cultural de Pindaré Mirim. Foto: Andreza Andrade/ISPN
O evento contou com duas apresentações culturais, o primeiro deles foi o das Caixeiras de Maria Caixeira, grupo de caixa da Associação Feminina Cultural Democrática Divindade do Vale do Pindaré Mirim. Com seus tambores e cantorias do Festejo do Divino Espírito Santo, as caixeiras enaltecem uma importante tradição do mês de novembro que é a festa do Divino. O toque das caixas, a força das ladainhas de louvação e o caroço, embalaram uma dança contagiante que remonta às mais antigas tradições maranhenses. O grupo foi criado por Maria Caixeira em 1991 e reúne 30 mulheres negras.
Grupo cultural Puxada de Rede. Foto: Andreza Andrade/ISPN
A segunda atração foi do grupo Puxada de Rede de Pindaré Mirim, formado por jovens da região. Um misto de teatro e musical, o grupo trouxe canções populares interpretadas por movimentos performáticos a fim de repassar as mensagens contidas nas letras e melodias.