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Encontro e Feira dos Povos do Cerrado teve grande mobilização pelo bioma

A Feira contou com 272 expositores e teve uma arrecadação total de R$ 300 mil. Foto: Méle Dornelas/Acervo ISPN

Debates sobre a governança do Cerrado, palestras, oficinas e mesas redondas compuseram o evento com cultura, artesanato, gastronomia e música

Durante quatro dias (13 a 16/09), Brasília recebeu nove estados do bioma Cerrado no X Encontro e Feira dos Povos, que reuniu cerca de 8 mil visitantes só na feira de produtos da sociobiodiversidade. Participaram representantes dos estados do Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“O Cerrado está de pé graças aos povos nativos que estão lá”, frisou a coordenadora geral da Rede Cerrado, Maria de Lourdes de Souza Nascimento, conhecida como Dona Lourdes.

A feira contou com 272 expositores e teve uma arrecadação total de R$ 300 mil com a venda de medicinas tradicionais, cosméticos naturais, artesanatos, comidas e bebidas  feitas de matérias primas obtidas da natureza cerratense.

Na tenda de medicina tradicional, raizeiras e erveiras como as mulheres da Associação Pacari e indígenas de diferentes etnias apresentaram para o público de Brasília garrafadas, chás, pomadas e xaropes “para curar qualquer mal do corpo e do espírito”.

A tenda dos povos indígenas apresentou artesanatos desde os povos do Xingu, Timbira, Xavante e Xerente, além de oferecer pinturas corporais para os visitantes. Já o artesanato do Tocantins teve destaque pelo capim-dourado e artefatos em madeira.

Nas barracas de comida, os produtos passavam dos alimentos mais conhecidos de Minas Gerais, como queijo e goiabada, até alimentos tradicionais das comunidades, como farinha de buriti e de jatobá. Do Maranhão, o óleo de babaçu orgânico e certificado fez sucesso, assim como a peta de mesocarpo de babaçu das mulheres do Assentamento Canto Ferreira (MA). De Goiás, a cachaça destilada de baru, sem cana de açúcar, surpreendeu.

A tenda da cooperativa Central do Cerrado reuniu 23 organizações produtoras e lançou a nova linha de farinhas e óleos com a marca da Central, como a farinha de buriti e o mix de castanhas, com licuri da Bahia, baru do norte de Minas e castanha do Brasil do povo Kayapó no pacotinho. O movimento Slow Food Cerrado também marcou presença, com pão de queijo de pequi, biscoito de queijo com pimenta de macaco, sucos diversos e outras iguarias.

As novidades que alegraram o público durante as quatro noites musicais estavam na barraca da cooperativa Grande Sertão, de Minas Gerais, e da Central do Cerrado. Foram os chopes artesanais feitos a base de jatobá e, o outro, de coquinho azedo, um sucesso entre os visitantes.

Presenças políticas 

A Ministra do MMA, Marina Silva, foi uma das presenças políticas no Encontro. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Além da feira, o evento teve uma programação intensa de debates, oficinas, palestras e lançamento de livros. A cerimônia de abertura, que terminou ao som do grito “Cerrado em pé é o que a gente quer”, contou com as presenças ilustres das ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; da secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal; e do Secretário de Estado do Meio Ambiente e Proteção Animal do Distrito Federal, Gutemberg Gomes.

“O Encontro dos Povos é um momento de assumir compromisso, celebrar as conquistas, mas também fazer cobranças. Estou comprometida com todos os biomas do Brasil e vamos combater o desmatamento, ponto. A natureza não faz diferença entre desmatamento legal e ilegal. Podemos ser uma potência agrícola sem ter que derrubar mais uma moita”, disse a ministra Marina Silva.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou que a prioridade do Governo Federal é potencializar a agricultura familiar e afirmou que os povos e comunidades tradicionais do Cerrado são importantes parceiros do governo Lula.

ISPN no Encontro

ISPN promoveu e/ou participou de diferentes agendas pelo Cerrado durante o Encontro. Foto: Andreza Andrade/Acervo ISPN

Dentro da programação do Encontro, o ISPN promoveu e/ou participou de diversas agendas, confira algumas das mais estratégicas:

A primeira atividade do X Encontro e Feira dos Povos do Cerrado foi acompanhar a audiência pública na Câmara federal de lançamento da consulta pública do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas, o PPCerrado, importante instrumento para reduzir o desmatamento no bioma. O ISPN esteve presente e é possível saber mais sobre a ação aqui. 

Na mesa sobre Manejo Integrado do Fogo, foi lançado o Guia Prático para Elaboração de Plano de Manejo Integrado do Fogo para Territórios de Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado. O guia alia o conhecimento científico e técnico à prática tradicional das comunidades que usam o fogo para manejar seus territórios. 500 cópias do material foram distribuídas durante o encontro. Conheça mais e acesse o guia aqui.

Também foram realizadas mesas de debate e atendimentos no contexto da iniciativa Tô no Mapa. Além do “Atendimento de help desk: Tô no Mapa e Plataforma de Territórios Tradicionais”, proporcionada para a orientação sobre o uso do aplicativo durante todo o encontro, também foram promovidas a oficina “Entrando no mapa – Tô no Mapa e PPT como ferramentas de cartografia social”, e a roda de diálogo “Autoidentificação e Autodemarcação: Produção de justiça a partir de protagonismo dos Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores/as Familiares”. Saiba mais aqui.

Como parte do Mês da Filantropia que Transforma, uma iniciativa da Rede Comuá, o ISPN e o Fundo Casa promoveram o debate “Diálogos sobre a importância da filantropia comunitária na conservação do Cerrado e seus povos”. Participaram instituições interessadas em ampliar o apoio ao Cerrado, como a Fundação Banco do Brasil, o Instituto Sabin e o BNDES, além de organizações da sociedade civil que atuam no Cerrado e representantes de povos e comunidades tradicionais cerratenses. A live da mesa pode ser assistida aqui, e para mais informações, acesse aqui. 

Uma das principais pautas abordas pelo ISPN foi o investimento no Cerrado por meio da filantropia comunitária. Foto: Denise Farias/Fundo Casa Socioambiental

No contexto da iniciativa Tamo de Olho, foi promovida a oficina “Tamo de Olho: ferramenta de combate ao desmatamento no Cerrado”, que debateu o histórico do desmatamento no bioma e como ele está relacionado, dentre outros motivos, à dificuldade da sociedade e do poder público enxergarem o “Cerrado de pé” como uma forma de geração de renda. Dentre as alternativas levantadas para enfrentar a degradação da savana brasileira, estavam a qualificação e implementação de ferramentas de monitoramento e fiscalização, o aumento dos custos para quem desmata e o investimento em infraestrutura de rentabilização do Cerrado de pé. Saiba mais sobre a o Tamo de olho aqui. 

Ainda dentro dos debates de incidência política pelo Cerrado, o ISPN participou da mesa ”Acordo UE-Mercosul e o novo regulamento europeu sobre desmatamento importado”, que debateu sobre a inclusão do Cerrado na normativa da União Europeia para evitar desmatamento em suas cadeias de provisão, uma pauta importante na atuação do ISPN em defesa do Cerrado no âmbito internacional.

Como parte do Observatório das Economias das Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), o ISPN também esteve presente na oficina “Sociobiodiversidade do Cerrado: babaçu, baru e pequi”, que reuniu mais de 100 pessoas. Produtores do Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Goiás e outros estados dialogaram sobre o direcionamento ao plano nacional de bioeconomia e sociobiodiversidade que está sendo elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Acompanhe o ÓsocioBio nas redes aqui. 

O ISPN promoveu ainda a oficina “Diálogos Cerrativistas – processos formativos para lideranças comunitárias”, um intercâmbio de saberes entre lideranças comunitárias do Tocantins, Piauí e Bahia, discutindo a importância de processos formativos para amplificar a luta pelo Cerrado e pelos seus povos. O Cerrativismo é uma formação voltada para representantes de povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares para fortalecer a luta em defesa dos territórios e do Cerrado. Saiba mais aqui. 

Domingo do Cerrado no Eixão 

Domingo do Cerrado no Eixão contou com um público de, pelo menos, duas mil pessoas. Foto: Andreza Andrade/Acervo ISPN

Para encerrar a Semana do Cerrado, o ISPN produziu o evento “Domingo do Cerrado no Eixão”, no dia 17 de setembro, com degustação de sucos de frutos nativos, como cagaita, mangaba e coquinho azedo, em parceria com a Central do Cerrado e o Choro no Eixo, grupo musical que toca todos os domingos no Eixão do Lazer, em Brasília, reunindo público variado da cidade.

A coordenadora geral da Rede Cerrado e agricultura familiar, Maria de Lourdes, e o geraizeiro cerratense, Samuel Caetano, fizeram falas ao microfone entre uma música e outra da apresentação do grupo Choro no Eixo. Ambos falaram da importância do Cerrado para a cidade, como a provisão de águas, além do protagonismo exercido pelos povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares para a proteção do bioma. A gerente de projetos do Instituto Rosa e Sertão, Damiana Campos, integrante da Rede Cerrado, também falou sobre a importância do Cerrado e dos seus povos para a vida na cidade.

Com a ação, a sociedade urbana pôde se conectar mais às riquezas do Cerrado e entender o bioma como peça essencial para o dia a dia das cidades, seja com o fornecimento de alimentos saudáveis e a segurança hídrica, como também para a promoção do equilíbrio climático e o enfrentamento a ondas de calor ou frios extremo.

Confira aqui o video de como foi esse dia. 

Quem fez o X Encontro e Feira dos Povos do Cerrado 

O X Encontro e Feira dos Povos do Cerrado foi uma realização da Rede Cerrado, com produção da Funatura e apoio de diversas organizações: ISPN, IPAM, WWF Brasil, Instituto Cerrados, IEB, Instituto Terra Azul, CAA/NM, Central do Cerrado, Rede de Sementes do Cerrado, Instituto Rosa e Sertão, Slow Food Cerrado, CTI, Mopic, Assema, Angá, além de Araticum, DGM Brasil, Humanize, Heks Eper, GIZ, Ósociobio, e Dome Bambu. O patrocínio foi da Secretaria do Meio Ambiente e Proteção Animal, do GDF, do Conselho Nacional do SESI, BRB, Banco Mundial e dos Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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