Participantes da Farinhada de Jatobá do Cantão realizam a torra da farinha. Foto: Thales Figueiredo/Acervo ISPN

Participantes da Farinhada de Jatobá do Cantão realizam a torra da farinha. Foto: Thales Figueiredo/Acervo ISPN

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Da coleta à farinha: encontro no Tocantins reúne extrativistas para fortalecer a cadeia do Jatobá

Ação coletiva fortalece práticas sustentáveis em torno do fruto

Em Caseara, no estado do Tocantins, o Assentamento Onalício Barros recebeu, nos dias 4 e 5 de outubro, agricultores familiares, assentados, povos indígenas e comunidades tradicionais para um encontro focado na produção de farinha de Jatobá. Com nome de origem Tupi, que significa “árvore com frutos duros”, é uma planta icônica espalhada por grandes biomas brasileiros, como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal e o Cerrado.

A riqueza dessa espécie está em seu aproveitamento integral: a polpa, para farinha usada em bolos e biscoitos ricos em ferro; a semente é usada para plantio, biojoias e extratos para cosméticos; a casca e a resina do fruto, para incenso. Além disso, o jatobá tem grandes propriedades para o uso medicinal. Por essa variedade, a planta também é considerada um protetor do Cerrado.

Farinhada e as lições de Zé Mininim

A terceira Farinhada do Jatobá do Cantão foi um momento de troca de conhecimentos e de trabalho coletivo. O evento foi organizado a partir de um esforço coletivo com realização da AMA Cantão, Coalizão Vozes do Tocantins, ONG Onça D’Água e Projeto Bem Viver (coordenado pelo ISPN, Conexsus e WWF), em parceria com a AAFB, APA Ilha do Bananal/Cantão e Parque Estadual do Cantão (PEC) e apoio do WRI, Fundo Casa Socioambiental, ISPN e Fundo Ecos, e cofinanciamento da União Europeia e do Global Gateway.

No comando da produção da farinha estiveram Zé Mininim, extrativista do Jalapão com mais de duas décadas de experiência no assunto, e Lena Rodrigues, culinarista e nutricionista que representa a Associação de Agricultores Familiares (AGROP).

Zé Mininim orienta participantes no beneficiamento do Jatobá para produção de farinha, na APA Cantão. Foto: Bruna Braz/Acervo ISPN

Jatobá no Tocantins. Desde 2006, ele realiza farinhadas e participa de eventos para ensinar as técnicas e realizar a troca de conhecimentos. Ao longo da manhã, as pessoas que compareceram às atividades em Caseara puderam aprender e colocar a mão na massa nas diferentes etapas do processo:

  1. Colheita e armazenamento: deve ser feita quando o fruto cai no chão e antes de pegar chuva, pois a umidade incha o fruto e prejudica a produção de farinha. Após recolhidos, deve-se guardar em lugar arejado e sem umidade.
  2. Quebra do fruto: estágio inicial consiste em romper a casca dura do jatobá, geralmente com o auxílio de um instrumento, para liberar a polpa interna. Também é uma fase de seleção dos frutos de boa qualidade, descartando os deteriorados.
  3. Pilagem: a polpa seca é triturada no pilão, com a batida é quebrada, liberando o pó fino. Essa moagem transforma a polpa que fica parecida com a farinha pronta.
  4. Peneiragem: realizada para separar a farinha das impurezas, esse refinamento é feito em duas etapas: primeiro na peneira grossa, e depois na peneira fina para uma textura suave e uniforme.
  5. Torra: a farinha é levada ao fogo baixo, mexendo constantemente por cerca de 30 minutos. Essa secagem final remove a umidade, tornando-a soltinha e prolongando a durabilidade.

 

III Farinhada do Jatobá

A edição de 2025 da Farinhada do Jatobá reuniu 96 participantes nas atividades. Após a etapa de produção da farinha, foi realizada uma roda de conversa que levantou temas cruciais para o avanço do produto no mercado. Os principais pontos debatidos incluíram:

  • Definição de parâmetros de qualidade e padronização da farinha.
  • A importância de desenvolver produtos que, além de agradarem o público, sejam viáveis financeiramente. A falta de receitas com farinha de jatobá, um desafio que mostra a importância da sensibilização do consumidor.
  • Obstáculos práticos, como a burocracia e a logística de distribuição.

 

Além disso, uma mesa com Lena Rodrigues (AGROP), Maria Angela Gomes, da Associação de Mulheres Agroextrativistas do Cantão (AMA-Cantão) e Barbara Fellows, do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) refletiu sobre experiências, desafios e oportunidades para a introdução dos alimentos do Cerrado na alimentação escolar através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Participantes aprendem e trabalham coletivamente na produção da farinha do jatobá. Foto: Thales Figueiredo/Acervo ISPN

Conheça boas práticas de manejo do Jatobá nesta publicação do ISPN

Autoria: Thales Figueiredo/Assessoria de Comunicação do ISPN

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