Enquanto os efeitos da crise climática se intensificam nos territórios, os mecanismos tradicionais de financiamento falham em garantir recursos justos, ágeis e eficazes para as populações que mais protegem os biomas. Os obstáculos são muitos: financiamentos excessivamente burocráticos, distantes da realidade local, com exigência de estruturas formais e relatórios complexos — muitas vezes em línguas estrangeiras.
Para transformar esse cenário, nasce a Casa Sul Global — uma ousada plataforma coletiva criada por e para o Sul Global, com o objetivo de reconfigurar os fluxos de recursos e as dinâmicas de poder no campo da filantropia climática e ambiental.
A iniciativa é fruto da articulação entre a Alianza Socioambiental Fondos del Sur e a Rede Comuá, reunindo fundos comunitários e temáticos de diferentes países da América Latina, África e Sudeste Asiático. A plataforma surge em um momento crítico: em 2024, o mundo ultrapassou pela primeira vez o limite de aquecimento de 1,5 °C, desencadeando eventos climáticos extremos em todos os continentes.
A proposta da Casa é fortalecer o protagonismo de povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, reconhecendo sua centralidade na conservação ambiental e na construção de soluções eficazes frente à emergência climática.
“Nosso objetivo é colocar as soluções do Sul – e para o Sul – no centro dos debates globais sobre financiamento para clima, natureza e pessoas,” afirma a coordenadora executiva da Alianza Fondos del Sur e impulsionadora do projeto, Juliana Tinoco.
Para a diretora superintendente do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Cristiane Azevedo, a plataforma representa a consolidação de anos de articulação estratégica entre fundos comunitários do Sul Global. O ISPN integra a Alianza e a Rede Comuá e mantém um fundo que fortalece iniciativas ecossociais lideradas por povos indígenas, comunidades tradicionais, agricultores familiares e comunidades periurbanas, o Fundo Ecos.
“A participação do ISPN e do Fundo Ecos na Casa Sul Global fortalece a visão de filantropia comprometida com a justiça socioambiental e climática, com o protagonismo dos povos e comunidades locais. É também uma oportunidade de troca de experiências, fortalecimento de alianças e construção de estratégias coletivas que vão além da COP30, fortalecendo um movimento contínuo por justiça socioambiental”, afirma Cristiane.
A Casa também é uma forma de demonstrar que existem mecanismos eficazes no Sul Global — como o próprio Fundo Ecos e outros fundos independentes — que precisam ampliar o acesso a recursos pelas comunidades locais para implementarem suas próprias soluções.
“Mecanismos como os fundos de justiça socioambiental são exemplos de caminhos para um financiamento climático e para biodiversidade mais justos e alinhados às lutas das comunidades. Na COP30, o debate sobre financiamento será central, e esses atores filantrópicos do Sul Global têm muito a contribuir”, afirma o diretor executivo da Rede Comuá, Jonathas Azevedo.
Coordenador do Fundo Ecos e do Programa Iniciativas Comunitárias do ISPN, Rodrigo Noleto ressalta que a atuação em rede é essencial para o fortalecimento das organizações:
“Articular-se em torno de iniciativas como a Casa Sul Global é fundamental para ampliar o debate e permitir que as vozes das diferentes organizações, de forma articulada, alcancem financiadores e gestores de políticas públicas.”
Lançamento oficial
A Casa Sul Global será apresentada ao público em um evento on-line no dia 30 de julho de 2025. Sua primeira edição física acontecerá durante a COP30, em Belém (PA), em parceria com a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira e o movimento #ShiftThePower. A programação presencial será sediada no Canto Coworking, um espaço histórico e central da capital paraense, com sete dias de atividades e trocas.

📅 Evento de lançamento virtual
🗓️ Data: 30 de julho de 2025
⏰ Horário: 10h30–12h (UTC-3)
🌐 Formato: Online, com interpretação simultânea em português, espanhol e inglês
Palestrantes:
- Artemisa Castro Félix – Fondo Acción Solidaria (FASOL)
- Cristi Marie C. Nozawa – Samdhana Institute
- Josimara Baré – Fundo Indígena Rutî / Rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira
- Joshua Amponsem – Youth Climate Justice Fund
- Larissa Correia de Amorim – Casa Fluminense / Aliança Territorial da Rede Comuá
- Lisa Chamberlain – Environmental Justice Fund
- Maria Amália Souza – Fundo Casa Socioambiental
Abertura e Mediação: Suleiman Abdullahi, Fundador da Common Reserve e representante do movimento #ShitThePower
Apresentando A Casa Sul Global:
- Juliana Tinoco – Alianza Socioambiental Fondos del Sur
- Jonathas Azevedo – Rede Comuá