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Caderno Didático é pioneiro em tratar da conservação do Cerrado no contexto da Pedagogia da Alternância

O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e a Associação Mineira de Escolas Família Agrícola (AMEFA) apresentam o Caderno Didático: Agroecologia e Sociobiodiversidade do Cerrado, uma iniciativa pioneira voltada para a formação técnica e profissional no campo da agricultura familiar. O material é destinado a educadores e estudantes do Ensino Médio Técnico que vivem no Cerrado e demandam publicações adequadas ao contexto da agricultura familiar e aos princípios da Pedagogia da Alternância.

Baseado no trabalho de Centros Educativos Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs), o caderno oferece um material inédito para o ensino profissional técnico, destacando um caráter dinâmico, interativo e em constante construção, ao passo que conecta os saberes dos estudantes às práticas sustentáveis do agroextrativismo. Além de aprofundar sobre os ecossistemas e as relações sociais e econômicas, o material também  trabalha o processo de interação entre a biodiversidade e os valores culturais das comunidades.

Um dos grandes diferenciais desta publicação é sua abordagem inclusiva e colaborativa. No processo de elaboração, professores, estudantes, familiares e instituições parceiras foram consultados e contribuíram para que o material contasse com conteúdos e linguagens condizentes com as realidades locais. “Pela primeira vez, a gente viu um livro didático, em fase de elaboração, sendo levado até as escolas para que estudantes e educadores opinassem. Foram contribuições enriquecedoras”, comenta Marccella Berte, pesquisadora e organizadora da publicação.

A estrutura pedagógica do Caderno é baseada no método VER-REFLETIR-AGIR, da Pedagogia da Alternância. Este método parte dos saberes prévios dos estudantes, incentivando-os a verem e analisarem a realidade em suas dimensões sociais, políticas, culturais e ambientais. Na etapa de REFLETIR, esses saberes são confrontados e enriquecidos com o conhecimento científico, promovendo uma compreensão crítica e sistemática das questões socioambientais. Finalmente, o AGIR busca transformar esse aprendizado em ações concretas nas comunidades, valorizando o uso da ciência a serviço da vida e da justiça social e ambiental.

“A importância desta publicação para os educadores e estudantes do Cerrado é que, finalmente, as escolas do campo possuem um livro didático voltado ao Ensino Médio Técnico, no Eixo tecnológico Recursos Naturais e contextualizado ao bioma. Além disso, o material apresenta uma mediação didática, com um conjunto de conteúdos e perguntas, que dialogam com a realidade sugerindo atividades dentro e fora do espaço da escola baseadas na pedagogia da alternância e nos princípios da agroecologia”, destaca Marccella.

Com capítulos que aprofundam conhecimentos sobre o Cerrado, práticas agroecológicas e o potencial econômico dos produtos da sociobiodiversidade, o caderno também relaciona a educação do campo à proteção do bioma. A proposta não é apenas incentivar o ensino e a aprendizagem no meio rural, mas também contribuir para o fortalecimento da identidade da agricultura familiar e seu papel protagonista na proteção do Cerrado.

“Lançar esta publicação no ano em que o Cerrado assumiu o topo do ranking de desmatamento no Brasil é uma resposta imediata ao desenvolvimento desordenado que incentiva os grandes monocultivos e a agropecuária em nome do sacrifício do bioma. Com a publicação, mostramos que a educação contextualizada ensina caminhos que conciliam o desenvolvimento social e econômico à conservação dos ecossistemas. Essa educação é uma das alternativas para salvar o Cerrado”, comenta Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do ISPN e também organizadora do material.

Publicação é resposta às lacunas na educação. 

O desenvolvimento deste material didático foi inspirado nas conclusões  apresentadas pela publicação Educação para a conservação do Cerrado: Desafios e oportunidades para os produtos da sociobiodiversidade, lançada em 2023 pelo ISPN, por meio do Projeto CERES, apoiado pela União Europeia. Também voltada para a educação técnica e profissional, o material contou com pesquisa de Marccella, que destacou  limitações de algumas escolas em inserir a pauta do Cerrado em seus currículos.

Segundo a pesquisa, apenas 20% dos projetos pedagógicos dessas instituições abordam o Cerrado nos currículos, mesmo que a maioria esteja no bioma. O material também aponta que, no Cerrado, existem 56 CEFFAscom potencial de atualização curricular na abordagem de paisagens sustentáveis. A agroecologia está presente nos Planos de Formação e Projetos Políticos Pedagógicos em 78% dessas escolas.

Unindo as necessidades e oportunidades apontadas pela publicação de 2023, o Caderno Didático: Agroecologia e Sociobiodiversidade do Cerrado reforça a importância da Pedagogia da Alternância para o desenvolvimento local. Disponível para consulta e em breve distribuído para todos os CEFFAs interessados, o material é mais um passo importante na consolidação de práticas educativas emancipadoras que visam a transformação social e o desenvolvimento sustentável no campo.

Live debaterá resultados do caderno

Pensando em divulgar o material para o máximo de instituições que se beneficiam de seu conteúdo, será realizada uma live no dia 25 de novembro, às 18h, no canal do YouTube da Cátedra do Cebrap. O momento virtual contará com a presença dos organizadores da publicação e de colaboradores, que debaterão os principais aspectos e resultados do material. Além disso, haverá direcionamentos sobre o uso estratégico dos saberes presentes para o fortalecimento do ensino nos mais de 50 Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs) do Cerrado.

O caderno é uma realização do ISPN e da AMEFA, organizado por Marccella  Berte, Isabel Figueiredo e João Begnami. A publicação contou com apoio do Projeto Cerrado Resiliente (CERES) – iniciativa do ISPN, WWF Brasil, WWF Paraguai e WWF Holanda, com apoio da União Europeia e da Cátedra Itinerante de Inclusão Produtiva Rural.

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