Em vídeo produzido pelo Instituto Raoni (IR), o Cacique Raoni Metuktire fala sobre a importância da estratégia do ISPN para a promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS), que atua, principalmente, por meio do apoio a projetos socioambientais que envolvem povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares.
O Instituto Raoni teve um projeto aprovado no Edital Amazônia do PPP-ECOS, lançado ano passado. A iniciativa do IR envolve de forma participativa mulheres Kayapó que buscam empoderamento por meio do fortalecimento e da autonomia socioeconômica, com a consolidação da cadeia produtiva do cumaru e a promoção da melhoria da qualidade de vida familiar.
Com a ampliação do Plano de Manejo de Cumaru, espécie coletada nas Terras Indígenas Capoto/Jarina (Mato Grosso), mulheres serão diretamente beneficiadas e, indiretamente, outros centenas de indígenas com oficinas de capacitação, intercâmbios, manejo adequado de sementes, enriquecimento de roças e pomares. Além disso, o beneficiamento do Cumaru resultará no aumento da comercialização dessa cultura para a indústria cosmética, consolidando outra alternativa econômica sustentável para os Kayapós. As ações também aumentarão a efetividade da vigilância em seus territórios e a valorização da floresta viva e conservada.
“Esse apoio é muito bom não só para o Instituto Roni e as aldeias Kayapó, mas também para outros parentes [indígenas] que apoiamos. Esse projeto não pode parar. Muito obrigado!”, destaca Raoni.
Sobre Raoni Metuktire
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Raoni Metyktire, o grande líder conhecido como Cacique Raoni, nasceu provavelmente no início da década de 1930, em uma antiga aldeia Mebêngôkre (Kayapó) localizada na região denominada Kapôt Nhinore, na margem direita do Rio Xingu, nordeste do Estado de Mato Grosso. Durante o período de sua juventude, os Mebêngôkre viviam em aldeias seminômades, sem contato pacífico com a sociedade envolvente. Em 1954, quando o povo Mebêngôkre estabeleceu contato definitivo com os brancos, Cacique Raoni tinha aproximadamente 24 anos e teve um papel fundamental no processo de pacificação de diversas aldeias. Nesta época, conheceu os irmãos Villas Boas, com quem aprendeu a entender um pouco a língua portuguesa e a tomar consciência do mundo não-indígena. A partir de então, Raoni passou a ser o principal interlocutor entre os Mebêngôkre e a sociedade nacional.
Ao longo de sua trajetória, Cacique Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, passando a ser reconhecido internacionalmente como liderança legítima e porta voz da preservação do meio ambiente. Em 1978, foi tema de um documentário indicado ao Oscar e em 1987, após seu encontro com Sting, alcançou notoriedade internacional. Nas décadas 80 e 90 teve papel fundamental na demarcação dos territórios Mebêngôkre, Terra Indígena Menkragnoti, um dos maiores blocos contínuos de floresta tropical do mundo e que ainda hoje constitui a maior barreira contra o desmatamento na porção leste da Amazônia, além de participar do processo de demarcação de territórios de diversos outros povos. Teve forte atuação na Assembleia Constituinte em 1987 e 1988 junto ao movimento indígena, a qual resultou na inclusão dos direitos fundamentais dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988. Em 1989, conseguiu mobilizar a imprensa mundial para a cobertura do “Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu”, em Altamira (PA), contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu (que incluía a usina Kararaô, que retornaria anos depois como Usina Hidrelétrica de Belo Monte), resultando no abandono do projeto. Na década de 90 e a partir do ano 2000, Cacique Raoni realizou inúmeras viagens pelo mundo e conquistou o apoio de importantes lideranças e personalidades internacionais, que resultaram no levantamento de fundos internacionais para a demarcação de terras indígenas brasileiras, bem como na tomada de consciência do público em geral sobre a necessidade de proteger a floresta amazônica e suas populações nativas.
A partir de 2018, diante de um cenário político nacional dramático para os povos indígenas e para o meio ambiente, Raoni assumiu mais uma vez a linha de frente na luta pelos direitos dos povos indígenas e pela defesa da Floresta amazônica. Uma nova campanha foi realizada em 2019, onde Cacique Raoni advertiu ao mundo sobre o desmatamento na Amazônia e as ameaças vindas do agronegócio, garimpeiros e madeireiros que exploram a floresta, buscando apoio para garantir a condições para a proteção territorial e o fortalecimento sociocultural de seus povos. Em janeiro de 2020, Raoni convocou um encontro histórico de lideranças de povos da floresta, no qual reiterou a importância de sua união contra os ataques e retrocessos aos direitos e políticas indígenas e ambientais.
Juntamente com outros indígenas Mebêngôkre, Raoni fundou em 2001 o Instituto Raoni, organização não governamental que vem atuando fortemente na defesa dos interesses das comunidades indígenas, no fortalecimento para proteção de seus territórios e no desenvolvimento de atividades que promovem o uso sustentável da biodiversidade e diminuam sua vulnerabilidade ao envolvimento com atividades predatórias.
Atualmente com quase 90 anos de idade, Cacique Raoni é um símbolo vivo da luta pela vida, pela proteção da natureza e pela defesa dos povos indígenas e dos direitos humanos. É um símbolo de dignidade, simplicidade e honestidade, sendo respeitado e aplaudido pelo mundo por seu legado e histórico de vida.
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