“Agroecologia como estratégia ao enfrentamento dos conflitos e das mudanças climáticas”. Este foi o mote do quarto Encontro Maranhense de Agroecologia (EMA) realizado entre os dias 15 a 17 deste mês na cidade de São Luís – MA. A atividade foi organizada pela Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), a qual o ISPN faz parte também. O evento reuniu cerca de 120 pessoas, entre agricultores familiares, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, técnicos e representantes de organizações que compõem a Rede. Destacaram-se a participação e o protagonismo das mulheres e das juventudes em toda a programação do EMA.
O encontro contou com uma programação diversa, trazendo ampla participação e reflexões sobre temas que norteiam a Agroecologia e os modos de vida das pessoas nos territórios. Foram realizados painéis, intercâmbio de experiências, oficinas, ato político e atividades culturais. Um dos debates foi sobre a análise da conjuntura política, trazendo as populações indígenas para o centro do debate. O ISPN marcou presença no quarto EMA, enviando e apoiando a ida de uma delegação formada por assessores técnicos e jovens indígenas Guajajara da TI Rio Pindaré, no âmbito dos Programas Maranhão e Povos Indígenas.

A jovem Vanussa Guajajara, da Terra Indígena Rio Pindaré, trouxe a importância da resistência dos povos alinhada a uma ação de organização e ocupação política. “Porque apesar do território ser nosso, ainda somos massacrados e temos todo dia sangue indígena derramado, infelizmente. Nunca teve um indígena como presidente, são raros parlamentares indígenas. Minha preocupação hoje é com a eleição do legislativo também. É preciso aldear a política. Nossa arma será caneta e maracá com parlamentares indígenas no Congresso e nas Assembleias Legislativas dos estados”, ressaltou.

Outra atividade dentro da programação do EMA foi o intercâmbio de experiências e vivências em comunidades agroecológicas e territórios tradicionais. Uma das áreas visitadas foi no sítio Tapera Viva, localizado na comunidade Quinta, no município de São José de Ribamar, na Grande São Luís. É uma iniciativa de conexão com a terra e produção saudável de alimentos, por meio de agrossistemas ecologicamente equilibrados. Outra visita aconteceu nas comunidades de Cajueiro e Taim, na zona rural de São Luís, formadas por pescadores, agricultores e extrativistas que possuem um histórico de luta pela permanência no território, contra os grandes empreendimentos portuários, o agronegócio e a mineração.
No terceiro e último dia do EMA, foram ministradas oficinas temáticas. Os grupos se dividiram entre os temas Justiça Ambiental e Climática, Mulheres e Agroecologia, Fracking no Maranhão, além de Comunicação e Juventudes. Esta última teve a colaboração do jornalista do ISPN, Daniel Ferreira, e do jovem cineasta indígena Guajajara, apoiados pelo Instituto.
A oficina de Comunicação e Juventudes trouxe a potência das narrativas e experiências da comunicação produzida a partir dos territórios. Houve a participação dos coletivos Pinga Pinga e da Mídia Guajajara relatando seus processos comunicacionais. “Podemos e temos como fazer nossa própria comunicação dentro do nosso território. Com acesso à internet e uma câmara na mão podemos ir longe. Faço e trago minhas fotos como resistência, como luta e como memória do meu povo”, partilhou Genilson Guajajara, fotógrafo e jovem cineasta da Aldeia Piçarra Preta, da Terra Indígena Rio Pindaré (MA).
Agroecologia, produção e biodiversidade

O fomento da produção agroecológica constitui uma estratégia contra o avanço do agronegócio, das violações no corpo-território perpetrados pelos grandes empreendimentos, da lógica do capital e de um outro desenvolvimento, que não dialoga com o local e com a conservação dos recursos naturais. A Agroecologia pode ser uma ferramenta potente no enfrentamento às mudanças climáticas por meio das tecnologias sociais, dos saberes tradicionais e do manejo da biodiversidade.
“A partir do nosso trabalho do Etnodesenvolvimento nos territórios indígenas que atuamos no Maranhão, temos colocado como base e prática da nossa assessoria técnica e extensão rural a Agroecologia. Estamos avançando aos poucos junto às comunidades indígenas, por exemplo, com a produção de quintais produtivos tendo as mulheres como protagonistas das atividades, a produção diversa e consorciada com outras culturas, o não uso de agrotóxicos nos plantios, o incentivo ao acesso à comercialização, o respeito ao saber tradicional indígena e a valorização da cultura a partir da fabricação do artesanato indígena”, explicou o agrônomo e assessor técnico do ISPN, Tainam Pereira.

É nesse sentido que a Agroecologia, mais do que uma técnica ou uma forma de fazer agricultura, é uma maneira de estar no mundo, é uma posição política frente ao agronegócio, aos desequilíbrios ecológicos e a destruição dos territórios. Ao mesmo tempo, deve-se compreender como a relação de cuidado e pertencimento com a terra, por meio do sistema agroecológico, como um instrumento de mobilização e resistência alimentar e política nas comunidades. Implica no modo de vida das pessoas, na sua ancestralidade com o território e nos seus laços sociais e afetivos com o lugar.
Carta Política
#Eleições2022 | Ainda dentro da programação do quarto EMA, foi realizado um Ato Político da Agroecologia nas Eleições, apresentando a Carta-Compromisso elaborada pela Rama. Durante o momento, foi relatado os candidatos e candidatas aos poderes executivo e legislativos estadual e federal que assinaram e se comprometeram com demandas referentes ao reconhecimento e ao fortalecimento da Agroecologia e do debate para a construção de políticas capazes de responder a fome, a crise ambiental e a mitigação dos conflitos no campo.

A Carta traz importantes pontos e anseios atuais vivenciados nos territórios, como a efetivação dos direitos territoriais e fundiários das famílias agricultoras, povos indígenas, quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais; a democratização do acesso à terra e aos demais bens da natureza; a regulação ambiental; os direitos trabalhistas e previdenciários; apoio a processos de comercialização e abastecimento que garanta soberania alimentar e nutricional; e os serviços públicos de educação e saúde.
O documento é uma forma de apresentar a importância política, social, econômica, alimentar e cultural da Agroecologia na vida das pessoas do campo e da cidade. Para acessar e ler a Carta na íntegra clique aqui!

Sobre a Rama – Criada há 23 anos, é uma das mais antigas redes brasileiras de Agroecologia. Reúne cerca de 20 organizações, entre elas o ISPN. Articula diferentes instituições e organizações de agricultores e agricultoras, indígenas e povos e comunidades tradicionais. Tem na sua estrutura organizacional de tomada de decisão a Plenária Estadual que é realizada a cada dois anos, quando é eleita a Coordenação Executiva – formada por cinco organizações responsáveis pela execução e coordenação das atividades planejadas, e cinco Grupos de Trabalho (GTs), que conduzem as ações dentro das suas respectivas temáticas: GT de Mulheres, GT de Juventudes, GT de Comercialização, GT de Educação do Campo e GT de Comunicação. Saiba mais: clique aqui!
Fotos: Daniel Ferreira, Ingrid Barros e Lanna Luiza / Acervo Rama