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3º ECOS da Amazônia colhe frutos e planta sementes para o futuro

Encontro em Brasília reuniu representantes de 56 projetos apoiados pelo Fundo Amazônia/ISPN para compartilhar melhorias, desafios e avanços nos territórios das comunidades

Ao longo de três dias intensos de atividades (24, 25 e 26/10), participantes do 3º ECOS da Amazônia celebraram  os resultados de quatro anos de projetos ecossociais apoiados pelo Fundo Amazônia. Mais de 130 beneficiários e beneficiárias do Fundo PPP-ECOS do ISPN partilharam experiências e aprendizados de agricultores e agricultoras familiares, povos e comunidades tradicionais vindos do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Uma trajetória que encerra oficialmente em dezembro deste ano, mas que deixa o legado de fortalecimento das iniciativas voltadas à conservação e uso sustentável dos recursos naturais da floresta Amazônica.

O encontro se deu em Brasília e recebeu representantes de 56 projetos de organizações indígenas, quilombolas, de agricultores familiares, pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu, entre outras. O investimento total do Fundo Amazônia no Fundo PPP-ECOS, de 2019 a 2023, foi de mais de R$11 milhões.

“Esse recurso teve um caráter principalmente educativo, com iniciativas que promoveram a conservação dos territórios, atividades produtivas e empoderamento comunitário, principalmente feminino e jovem. Com o PPP-ECOS, fomentamos atividades produtivas ecossociais que promovem a conservação dos recursos naturais e a geração de renda, a fim de manter as famílias com uma vida digna no campo”, destacou o coordenador do Programa Amazônia do ISPN, Rodrigo Noleto. 

Rodrigo Noleto, coordenador do Programa Amazônia do ISPN: fomento a atividades produtivas ecossociais.

A programação do evento foi construída com base em grupos temáticos de trocas de experiências e depoimentos entre os participantes. “Saio daqui com a vontade de fazer com que outras pessoas, das novas gerações, tenham o entusiasmo que eu tenho de cuidar do nosso território”, contou Maria Eliane da Silva, presidente da Associação de Moradores de Saudade, São José e Encruzilhada (Amossaje), em Trizidela do Vale (MA). Lá, a comunidade vive da produção de óleo de babaçu e da agroecologia nos quintais produtivos. 

A agricultora familiar Liliane Vieira da Cruz, presidente da Associação de Pequenos Agricultores do Projeto de Assentamento Cachimbo (Agripac), de União do Norte, Peixoto Azevedo (MT) falou sobre os avanços proporcionados pelo projeto. “Quando conseguimos entrar no edital do PPP-ECOS, em 2016, a nossa associação estava parada. De lá pra cá, alavancarmos a agroindústria de polpa de frutas e agora estamos na fase de documentação e organização”. 

Liliane Vieira da Cruz (à esquerda), presidente da Associação de Pequenos Agricultores do Projeto de Assentamento Cachimbo (Agripa), do Mato Grosso: “Hoje, estamos num outro patamar.”

Liliane destacou que, durante o 3º ECOS da Amazônia, teve a oportunidade de conhecer outras iniciativas que vivem a mesma luta e resistência. “Se não tivermos o apoio de um órgão como o ISPN, a gente não consegue. Temos tantos obstáculos que o agronegócio coloca, como o agrotóxico e a tomada de terras, que esse apoio e orientação é fundamental. Hoje, estamos num outro patamar”, relatou ela.

O fundador do ISPN, Donald Sawyer, faz uma retrospectiva da história do Instituto e comemorou os resultados: “O PPP iniciou como um programa de pequenos projetos. Daí, acrescentamos o ECOS, de ecossociais, mas também de ecoar, repercutir, não ser apenas o pequeno projeto isoladamente. Vimos que inovações seriam importantes, como o beneficiamento dos produtos da sociobiodiversidade para serem colocados nos mercados. Todo mundo precisa de fonte de renda… Então, queremos combinar a tradição com algumas coisas da modernidade, que até ajudam a manter as tradições”.

Donald Sawyer, fundador do ISPN: ” ECOS é de ecossociais, mas também de ecoar, repercutir”.

O último dia do encontro (26/10) foi marcado por debates sobre a realidade das comunidades em cada um dos estados (MA, TO e MT), com seus desafios e potencialidades, tanto para as políticas públicas quanto para a atuação em rede das organizações. A partir dos diálogos, apareceram ameaças aos territórios como o desmatamento, a mineração, a perseguição a lideranças e os incêndios criminosos.

“Foi um momento importante do encontro para fazer a conexão entre as organizações, que podem ser de apoio uma para a outra, inclusive integrando redes e fóruns políticos para fortalecer os movimentos sociais”, destacou a assessora técnica do Programa Amazônia, Juliana Napolitano. 

FINANCIAMENTO

A programação do 3º ECOS da Amazônia contou também com um dia inteiro dedicado ao debate sobre financiamento de projetos ecossociais. O gerente de projetos do BNDES, André Ferro, participou on-line. O BNDES é o banco federal gestor das doações internacionais que compõem o Fundo Amazônia.

 “O nosso principal objetivo é conservar o meio ambiente e que as pessoas consigam tirar dali o seu sustento, mantendo a floresta em pé, para termos qualidade de vida no planeta. O apoio ao PPP-ECOS vem no sentido das comunidades manterem as suas atividades e aprenderem novas”, comentou.

Ainda que o evento tenha marcado o encerramento de um ciclo, André Ferro destacou que o Fundo Amazônia está aberto para receber novos projetos. “Fizemos algumas adaptações no documento que explica as regras, para que elas fiquem mais claras e mais fáceis de se entender: quem, como e onde podemos apoiar projetos.

“No caso de novos projetos, o papel das organizações de base é muito importante, e também a interlocução que o ISPN faz conosco. O BNDES é um banco federal que está sujeito a órgãos de controle de fiscalização. A gente zela pela gestão desse recurso – que é não-reembolsável, mas precisa ser devolvido em resultados. A contrapartida são os resultados que vocês obtêm com suas atividades e esse evento foi construído exatamente para compartilhar essas experiências”, disse André Ferro.

(Foto: Pierre Moraes / Acervo ISPN)
Associação de agricultores familiares que coleta e beneficia coco babaçu apresenta o projeto durante o encontro.

A representante da Alternativa para a Pequena Agricultura do Estado do Tocantins (APATO), Maria do Socorro Lima, afirmou que não se trata apenas de financiamento, mas de investimento. “O recurso investido em nós, guardiões da floresta, é como plantar uma árvore que vai dar muitos frutos e esse evento aqui está sendo o exemplo, com tudo que apresentamos: as conquistas que alcançamos com os projetos que foram executados, as agroindústrias que foram inauguradas e registradas, tudo isso foram investimentos que são nossos legados”. 

Maria do Socorro também abordou as dificuldades. “Não é só falar das belezas, a gente tem que falar das partes ruins. Tenho duas críticas a fazer: o recurso é pouco, mas as burocracias são muitas. Precisamos trabalhar a questão do clima, a questão das mudanças climáticas. Agora começou a chover, mas a gente tava pra morrer. Para finalizar: queremos um Brasil totalmente agroecológico!”, finalizou.

Para o assessor da Associação Agroecológica Tijupá (MA), Carlos Pereira, os projetos são fundamentais para criar estratégias de construção social de mercado. “No aspecto econômico, as feiras agroecológicas, pontos de comercialização e centros de referência são fundamentais”, afirmou. Ele também destacou a importância da incidência sobre políticas públicas de compras institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

“Trabalhamos no fortalecimento institucional das organizações, porque os projetos voltados para a comercialização e produção melhoram a renda, mas também garantem a segurança alimentar de famílias e comunidades. Ao se fortalecer economicamente, as organizações conseguem sensibilizar mais pessoas da comunidade e fortalecê-las”, explicou Carlos Pereira.

Carlos Pereira (à direita), da Tijupá (MA): criar estratégias de construção social de mercado.

CINEMA

Na noite do dia 25 de outubro, os participantes do 3º ECOS da Amazônia estiveram no Cine Brasília para assistir ao lançamento dos filmes curtas-metragens, realizados em parceria com as organizações e o ISPN, sob direção do cineasta Neto Borges. Os minidocumentários retratam, em imagens e movimento, as realidades de nove projetos, três em cada estado contemplado: Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. 

A série intitulada “Quem conserva a Amazônia?”, foi aplaudida pelas mais de 400 pessoas na plateia do cinema – que é patrimônio cultural da humanidade pela Unesco – entre elas, os próprios protagonistas das histórias mostradas na telona. Os filmes já estão disponíveis no canal do ISPN no YouTube. Assista aqui!

Ao final do evento, uma confraternização ao som do trio de forró Massapé animou a despedida de três dias intensos de trocas e renovação da força para persistir no caminho das paisagens produtivas ecossociais que, quando unidas, se potencializam.

Lideranças indígenas do Xingu no lançamento da série “Quem conserva a Amazônia?”

Confira aqui o vídeo final do encontro.


 

Fundo PPP-ECOS

O Fundo PPP-ECOS é mecanismo de apoio a projetos para a promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais. Ele democratiza o acesso a recursos para associações sem fins lucrativos e cooperativas constituídas que tenham caráter não governamental ou sejam de base comunitária para a implementação de ações que gerem benefícios socioambientais. 

Desde 1994, o PPP-ECOS recebe o apoio do Small Grants Programme (SGP), programa do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) implementado por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e, a partir de 2012, de outros doadores como o Fundo Amazônia, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Laudes Foundation, União Europeia, NORAD e USAID.

Ao entender a importância do papel dos diferentes e diversos povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares, o PPP-ECOS investe no que chama de conservação ambiental por meio do uso sustentável dos recursos naturais. A iniciativa já apoiou mais de 900 projetos no Cerrado, na Caatinga e na Amazônia.

Texto: Letícia Verdi / Ascom ISPN

Fotos: Pierre Moraes / Jovens de Expressão / Acervo ISPN

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