“Caipira Fernandes” é um empreendimento de Júnia e sua família na Feira de Agricultura Familiar de Veredinha. Foto: Reprodução/Caipira Fernandes

“Caipira Fernandes” é um empreendimento de Júnia e sua família na Feira de Agricultura Familiar de Veredinha. Foto: Reprodução/Caipira Fernandes

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Veredinha: Feira da agricultura familiar é cultura comunitária onde ‘clientes são amigos’

Em meio ao desafio do êxodo rural, jovens de Veredinha mostram que a agricultura familiar pode ser sustento, cultura e futuro

A barraca “Caipira Fernandes” na Feira da Agricultura Familiar de Veredinha comercializa de tudo um pouco: ovos caipiras, leite de vaca, leite de cabra, derivados como queijo, requeijão e doce de leite, e até animais de pequeno porte, como pintinho, frango, pato, galinha e galinha-d’angola.

Além disso, frutas como laranja, limão, mamão, banana nos tipos caturra e prata, chuchu, acerola, abacate; verduras como inhame, taioba, mandioca, abóbora, batata, quiabo; além de café, urucum e plantas medicinais do Cerrado, como canela-de-velho e espinheira-santa, também fazem parte da diversidade ofertada.

À frente do empreendimento, Júnia Maria Fernandes cresceu indo à feira. Quando tinha oito anos, lembra que comprou a primeira bicicleta com o dinheiro arrecadado ajudando os pais. Hoje, aos 31, é dali que tira seu sustento.

A cesta de produtos de Júnia é tão diversificada quanto a da maioria dos agricultores de Veredinha. “Tudo que vendo é da minha propriedade, é até difícil citar, porque são muitas variedades”, conta.

De plantas medicinais e ovos, o empreendimento Caipira Fernandes conta com marca e embalagem próprios. Foto: Acervo Pessoal/Reprodução

Mas a feira é muito mais do que um espaço de comércio. “Para mim e minha família, representa também um momento de lazer, onde a gente encontra os amigos, conversa, troca ideias. Pra você ter uma noção, minha mãe e meu pai preferem ir à feira do que a uma festa!”, brinca Júnia.

Assim como Júnia, a agricultora Thamires Aparecida, 31 anos, também faz da feira sua principal fonte de renda. Moradora da comunidade Mirante, ela trocou a vida na cidade pela roça há cinco anos. Hoje, ao lado do marido, trabalha com a produção de feijão verde, hortaliças, cheiro verde, beterraba e ainda com a apicultura.

“Mexer com a terra me ajudou na ansiedade e me conectou com a natureza. É prazeroso plantar e colher seus próprios frutos, saudáveis e sem agrotóxicos”, conta.

Agricultura familiar Thamires Aparecida é comerciante na feira de Veredinha. Foto: Acervo pessoal/Reprodução

Thamires destaca que a feira é também um espaço de fortalecimento feminino. “É maravilhoso levar nossos produtos para comercializar e também se encontrar, trocar ideias, tirar dúvidas e aprender umas com as outras.”

A presença das mulheres é marcante. Maria Aparecida Alves Guimarães, conhecida como Cida Macaúba, participa desde o início da feira e reforça a importância desse protagonismo. “É muito maravilhoso chegar numa reunião e saber que a gente é mulher e está tomando esse espaço na feira, numa reunião, num evento. É um orgulho enorme.”

As três agricultoras fazem parte da Associação dos Feirantes da Agricultura Familiar de Veredinha (AFAVE), criada em 2011. Para Cida Macaúba, a entidade é decisiva: “Cada dia a gente vê só melhora. Para nós agricultores, a associação faz muita diferença”.

Plantas medicinais do empreendimento Caipira Fernandes. Foto: Reprodução/Caipira Fernandes

Recentemente, a AFAVE foi uma das organizações selecionadas no edital 36 do Fundo Ecos, com o projeto “Agricultura Familiar Tradicional: na luta por água, recuperação dos solos e biodiversidade”, executado com recursos do Small Grants Programme (SGP-GEF). O objetivo central é viabilizar o acesso à água e valorizar os produtos da biodiversidade e da feira livre nas comunidades rurais de Veredinha.

O projeto envolve 118 famílias e inclui a construção de tecnologias sociais para captação e armazenamento de água da chuva, cursos sobre uso racional da água e produção de insumos orgânicos, fomento ao extrativismo da paisagem e fortalecimento da feira livre municipal. Além de garantir melhores condições de produção, busca restaurar a qualidade de vida das famílias agricultoras.

Mais do que garantir renda, a feira é símbolo de identidade coletiva e de resistência no Alto Jequitinhonha. “Eu vejo os clientes como amigos, eles são parte da minha história”, diz Júnia.

A feira também tem papel estratégico para a permanência dos jovens no campo — um desafio para a agricultura familiar no Brasil. Em 2017, o Censo Agropecuário do IBGE mostrou que havia cerca de 570 mil pessoas com até 34 anos trabalhando no campo, o que representa menos de 4% do total, sendo a maioria homens. Em Veredinha, jovens como Júnia e Thamires resistem a essa tendência e mostram que a feira pode ser caminho de renda, cultura e futuro.

Ainda assim, os desafios permanecem: o escoamento da produção, o acesso à água e o incentivo à juventude rural são apontados como prioridades.

Em Veredinha, a feira livre mostra que a agricultura familiar é mais do que economia — é cultura comunitária. Como resume Cida Macaúba: “Não desista. Muitas vezes temos ganhos e perdas, mas quando a gente vê uma boa colheita, só agradece a Deus. Trabalhar na terra é acreditar no amanhã.”

 

Autoria: Camila Araujo / Assessoria de Comunicação ISPN

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