Campanha alerta para o desmatamento do segundo maior bioma da América do Sul, com lançamento de vídeo animação em 3D e programação cultural no domingo (15), em Brasília
No Dia Nacional do Cerrado, 11 de setembro, um grupo de organizações da sociedade civil lança a campanha “Cerrado, Coração das Águas”, com o propósito de sensibilizar a opinião pública para o bioma mais rapidamente desmatado do Brasil. Localizado no centro do país e ocupando cerca de um quarto do território nacional, o Cerrado conecta a Amazônia, a Caatinga, o Pantanal e a Mata Atlântica. Devido ao desmatamento, o bioma já perdeu 50% de sua vegetação nativa.
A campanha é uma realização conjunta do Instituto Cerrados (IC), Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e WWF-Brasil.
Assista à animação em 3D, AQUI.
O Cerrado abriga as nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas que abastecem o Brasil e conecta a Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a sudoeste e a Mata Atlântica ao sudeste. Apesar de sua importância socioambiental, é o bioma mais rapidamente devastado do país: em 2023, perdeu mais de 1 milhão de hectares de vegetação nativa para o desmatamento.
O número representa uma área do tamanho de dois Distritos Federais e um aumento de 67,7% em relação ao ano anterior. Foi também a primeira vez que a área desmatada de Cerrado, em um ano, foi maior que a área amazônica, desde o início da publicação do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) da rede MapBiomas.
Por bombear água para o restante do território brasileiro, o Cerrado passa a ser chamado de Coração das Águas pela campanha, que tem o objetivo de sensibilizar a sociedade para a grandeza do bioma. Ao todo, mais de 3,5 mil nascentes formam rios apenas na Amazônia, sem falar no Pantanal, na Caatinga e na Mata Atlântica, que abastecem cidades, a indústria e, principalmente, a agropecuária.
O segundo maior bioma da América do Sul possui ainda mais características fundamentais, afinal, presente em 11 estados do Brasil e no Distrito Federal, abriga cerca de 12% da população brasileira (25 milhões de pessoas), além de 80 etnias indígenas e comunidades quilombolas, geraizeiras, de quebradeiras de coco babaçu e diversos outros segmentos de povos tradicionais. Apesar de prover quase metade da água doce do Brasil, a conversão de áreas nativas do Cerrado para pastagens e agricultura já tornou o clima na região quase 1°C mais quente e 10% mais seco, indica um estudo publicado na revista científica Global Change Biology.
No quesito diversidade, é a savana mais biodiversa do planeta. Estima-se que abrigue mais de 12 mil espécies de plantas. A região conta também com pelo menos 2.373 espécies de vertebrados, cerca de um quinto dos quais são endêmicos, ou seja, exclusivos do Cerrado.
Floresta Invertida
A magnitude do Cerrado também está embaixo da terra, uma vez que abriga uma “floresta invertida”, ou seja, tem árvores com raízes profundas que atuam como uma esponja gigante absorvendo e distribuindo água da chuva para os aquíferos que abastecem milhões de nascentes durante todo o ano, inclusive no período de seca. Ao desmatar essa vegetação, acontece a compactação e erosão do solo, dificultando a retenção de água e o abastecimento dos aquíferos, prejudicando rios de todo o bioma.
A campanha “Cerrado, Coração das Águas” será levada até a Conferência do Clima da ONU, em Belém, a COP 30, em 2025. “Queremos que todos saibam da relevância do Cerrado para as nossas vidas, inclusive para a agropecuária”, diz Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados.
O Cerrado é hoje responsável por 60% de toda a produção agrícola do Brasil, incluindo culturas como soja, milho e algodão – 14% de toda a soja do mundo e 16% da carne são produzidas no Cerrado. Plantações que dependem da estabilidade climática já começam a sofrer os impactos do desmatamento. A expansão agrícola, principal indutora do desmatamento do Cerrado, muda o cenário climático local e regional, o que pode levar à queda de produtividade e à diminuição do número de safras, além de agravar o aquecimento global.
“Cerca de 28% das áreas agrícolas de milho e soja do Centro-Oeste já estão fora do ideal climático para plantio, número que pode aumentar para 70% em 30 anos”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em referência a um estudo publicado pela instituição na revista científica Nature Climate Change. O início da estação chuvosa agrícola já está 36 dias atrasada e as chuvas já reduziram 8,6% em média no Cerrado.
Leis que não protegem
As barreiras para conter o avanço do desmatamento no bioma são poucas. O Código Florestal brasileiro determina que, pelo menos, 20% da área dos imóveis rurais no Cerrado seja mantida como vegetação nativa, e essa proteção passa para 35% em áreas de Cerrado dentro da Amazônia Legal. Na Amazônia, uma propriedade privada é obrigada a manter até 80% da vegetação nativa de sua área – o inverso. Além disso, no Cerrado existem poucas Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas, ocupando apenas 8,6% e 4,8% do território do bioma, respectivamente.
“A perspectiva de aumentar essa porcentagem é baixa, devido ao preço da terra e ao pequeno orçamento destinado pelo governo à criação de áreas protegidas”, diz Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
“O Cerrado está em degradação. Foram mais de 20 mil km² desmatados nos últimos 2 anos. Além disso, hoje, o Cerrado tem sido diretamente impactado pela crise climática, o bioma está se tornando mais seco e quente. Temos os incêndios iniciados por atividade humana. Precisamos reverter esse cenário catastrófico, para garantir que o bioma mantenha todos os seus serviços ecossistêmicos, ao mesmo tempo em que restauramos o que já foi destruído”, complementa Bianca Nakamato, especialista em conservação do WWF-Brasil.
DOMINGO DO CERRADO NO EIXÃO
A celebração ao Cerrado irá para a rua, em Brasília, no domingo, 15 de setembro. O Eixão do Lazer será palco do evento Domingo do Cerrado no Eixão, que convida a comunidade brasiliense a reconhecer a importância do bioma que abriga a capital federal. A programação inclui uma série de atividades culturais e interativas, como a tradicional Corrida de Toras, protagonizada por mulheres indígenas Timbira e Xavante, além de atividades para crianças, apresentações musicais ao vivo, distribuição de materiais informativos, estação virtual imersiva com óculos 3D e uma estação de hidratação com sucos de frutas típicas da Central do Cerrado.
Confira a programação:
8h30 – 10h30: Exposição de Figurinos do Fuá de Seu Estrelo @seuestrelo
9h20 – 10h: Contação da mitologia com Mestre Tico Magalhães
10h – 11h30: Corrida de Toras com mulheres indígenas dos Povos Timbira e Xavante
9h – 12h30: Distribuição gratuita de sucos da Central do Cerrado
9h – 12h30: Vídeos 3D imersivos no Cerrado com óculos de realidade virtual
9h – 12h30: Exposição de fotos e oficina de bomba de sementes para as crianças com a @escoladarvore
12h – Choro no Eixo
Assessoria de Comunicação do ISPN