Formação em agrofloresta contou com atividade prática na Aldeia Maçaranduba (TI Caru)

Formação em agrofloresta contou com atividade prática na Aldeia Maçaranduba (TI Caru)

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Formação em agrofloresta reúne indígenas, quilombolas e assentados da reforma agrária no Mosaico Gurupi

Curso ‘Do Quintal à Paisagem’, sobre Agroflorestas, Restauração e Gestão Integrada, foi realizado em quatro módulos entre novembro de 2022 e janeiro de 2024 em Santa Inês (MA)

O curso “Do Quintal à Paisagem: Formação em Agroflorestas, Restauração e Gestão Integrada no Mosaico Gurupi” reuniu indígenas, quilombolas do Povoado Onça, representantes da Reserva Biológica Gurupi, da Escola Casa Familiar Rural Padre Josino Tavares e assentados da reforma agrária no Mosaico Gurupi.

A formação foi realizada em quatro módulos, entre novembro de 2022 e janeiro de 2024, na cidade de Santa Inês, Maranhão, com atividades de campo desenvolvidas pelos cursistas em suas comunidades entre cada módulo. No último encontro, a programação contou com atividade prática na aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Caru, e um momento para dialogar sobre gestão e elaboração de projetos ecossociais.

Poda e estratificação, princípios da agrofloresta que foram colocados em prática na TI Caru (Foto: Erik Gavião/Acervo ISPN)

No primeiro dia do quarto módulo, os cursistas puderam apresentar a atividade entre-módulos que elaboraram em seus territórios: um mapa da paisagem de suas comunidades, refletindo sobre oportunidades e ameaças.

Na sequência, a bióloga Clara Vignoli e a assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) Kaline Nascimento apresentaram os trabalhos que levaram  para o Congresso Brasileiro de Agroecologia de 2023, referente ao levantamento dos quintais agroflorestais feito pelos cursistas, e sobre o apoio ao plantio de milho crioulo em comunidades Guajajara da TI Rio Pindaré, respectivamente.

Para chegar à aldeia Maçaranduba, é preciso atravessar o Rio Pindaré de barco (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

O objetivo da formação foi discutir a gestão e a restauração ambiental em diferentes escalas de paisagem, começando com os quintais agroflorestais ao redor das casas. Assim, o curso discutiu a governança territorial desde o nível local até o nível “macro”, contribuindo para formação e fortalecimento de lideranças para incidência mais qualificada em políticas públicas de proteção do meio ambiente.

“O conhecimento de agrofloresta que aprendemos no curso é parte de algo que a gente já faz no território. A formação ajuda a reforçar essas ideias para que a gente possa trabalhar melhor”, destaca o cursista Akadjuricha Ka’apor, guardião da aldeia Turizinho e da TI Alto Turiaçu.

Recepção na aldeia Maçaranduba, TI Caru (Foto: Erik Gavião/Acervo ISPN)

Sistemas agroflorestais são formas de uso do solo que combinam o plantio de diversos tipos de plantas com diferentes tempos de vida e alturas. Alguns princípios dos sistemas são o plantio de muitos tipos de plantas junto de espécies arbóreas e a manutenção da cobertura do solo com matéria orgânica produzida no mesmo local dos cultivos.

No caso dos sistemas discutidos na formação, a finalidade foi estimular a promoção de segurança alimentar, a geração de renda e o bem viver comunitário.

Robert Miller, do Programa Povos Indígenas do ISPN e coordenador pedagógico do curso, explica que a agrofloresta “nada mais é que um novo nome para um conjunto de práticas muito antigas exercidas por povos indígenas e povos e comunidades tradicionais”. Acrescenta que “vários povos têm árvores nos seus mitos de criação. No curso, a gente parte do princípio de que árvores não são apenas recursos, são cultura”.

Para o cursista Valdeir Tembé, da TI Alto Rio Guamá (PA), a formação chamou atenção por trazer ferramentas de como cuidar da natureza, como por exemplo, pela questão da restauração de áreas degradadas, que por sua vez pode promover a manutenção das fontes de água.

“Cuidar de árvores que estão no nosso quintal significa cuidar de vidas. Hoje o clima está muito intenso, o sol está cada vez mais quente. Tem lugar que é difícil encontrar água. Então plantar árvores é uma forma de captar mais do recurso”, disse o cursista. “A mata é vida, a água é vida e a gente depende de tudo isso. Então o curso ajuda com que mais pessoas possam se capacitar e falar disso”.

Na aldeia Maçaranduba, os cursistas puderam visitar quintais produtivos de indígenas Guajajara, como o da casa de Antônio Filho Guajajara, que há mais de dez anos maneja e conserva uma significativa área da aldeia, em meio ao bioma Amazônia, enquanto planta alimentos.

“Com o reflorestamento em nosso território, a gente tem sombra, colhe frutos no futuro e chama atenção de pássaros. Eu fico feliz debaixo de uma árvore com ar puro. Se fosse só capim, a gente estaria debaixo de um sol forte”, conta, e acrescenta: “Eu vou plantando e confiando em Tupã, que tudo vai dar certo”.

Já a atividade prática foi realizada na agrofloresta cultivada pelos brigadistas da TI Caru dentro do território, num local que era um capinzal e há oito anos vem sendo recuperado  com espécies como bacuri, jatobá e capoeiro, entre outras. Os participantes puderam colocar em prática os princípios da poda e da estratificação, do plantio de cupuaçu, bacaba, açaí e abacaxi.

(Foto: Camila Araujo / Acervo ISPN)

Brigadistas da TI Caru cultivam alimentos em área da aldeia Maçaranduba há mais de 8 anos (Fotos: Camila Araujo/Acervo ISPN)

“A gente pôde fazer o manejo do local e identificar as espécies que precisam de mais sombra, as espécies que precisam receber mais sol. Nesse processo, a gente trabalhou junto e pôde compartilhar conhecimento”, destacou Ana Paula Nascimento, agente ambiental temporária do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Veja abaixo o vídeo completo sobre a atividade na aldeia:

Finalizando a formação, os cursistas foram convidados a elaborar microprojetos no valor de R$ 3 mil para apoiar ações de restauração e agroflorestas nas suas comunidades. Segundo explica Cristiane Azevedo, diretora superintendente do ISPN, os microprojetos representam um exercício de aprendizado em relação à elaboração e gestão de projetos de forma geral.

“Os microprojetos são formas de ampliar oportunidades de aplicação do conhecimento compartilhado na formação, para que os cursistas possam implementar as ações que vêm desenhando ao longo dos módulos”, acrescenta a diretora, que também integra o Programa Povos Indígenas do instituto.

A iniciativa da formação e da elaboração de microprojetos, faz parte do projeto Paisagens Indígenas (Povos Indígenas e Paisagens Sustentáveis no Cerrado e Amazônia), financiado pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento – NORAD no âmbito da Iniciativa Internacional Climática e Florestal da Noruega (NICFI), implementado pelo ISPN.

Participantes da formação “Do Quintal À Paisagem” com certificados de conclusão do curso (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Mosaico Gurupi 

O Mosaico Gurupi é um corredor etnoambiental rico em sociobiodiversidade, com uma área de influência de cerca de 46 mil km² de extensão, no Maranhão e leste do Pará. É formado pela Reserva Biológica do Gurupi (Rebio Gurupi) e pelas Terras Indígenas Alto Turiaçu, Awá, Caru, Rio Pindaré, Araribóia e Alto Rio Guamá (no Pará), dos povos Guajajara, Awa-Guajá, Ka’apor e Tembé.

A sua área é uma das mais ameaçadas pela pressão do desmatamento e outros atos ilícitos, como invasão de terras, que ameaçam a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos, a qualidade de vida e os direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.

No estado do Maranhão, o Mosaico abriga a maior área de Floresta Amazônica conservada e propõe, desde 2014, uma conectividade social e ecológica entre unidades de conservação e terras indígenas, a partir da necessidade de encontrar meios de executar iniciativas de proteção do território e conservação da biodiversidade.

 

Autoria: Camila Araújo / Assessoria de Comunicação ISPN

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