Povo Kisêdjê durante inauguração de Miniusina de Processamento de Pequi, para extração de óleo, no Leste do Xingu (MT).

Povo Kisêdjê durante inauguração de Miniusina de Processamento de Pequi, para extração de óleo, no Leste do Xingu (MT).

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Portal inédito no Brasil auxilia na regularização sanitária de empreendimentos familiares, artesanais e comunitários

O objetivo é traduzir para uma linguagem acessível a legislação sanitária e auxiliar pequenos e médios agricultores e agroextrativistas a entrarem no mercado formal

A legislação sanitária no Brasil é, geralmente, de difícil compreensão para pequenos produtores rurais que alimentam o país com produtos da agricultura familiar. Para enfrentar essa dificuldade, o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) lança o site inédito Agroindústria agroindústria.org.br, a fim de apoiar a inclusão socioprodutiva de grupos familiares, artesanais e comunitários, por meio de informações que facilitam o acesso aos mercados formais. 

O site está sendo lançado, neste mês, com novas informações e funcionalidades. Agora, ele conta com um assistente virtual que convida o usuário a compreender a legislação sanitária: “Vamos te ajudar a entender como regularizar sua agroindústria! Basta responder algumas perguntas para conhecer as normas sobre produtos, rotulagem e estabelecimentos”.

O objetivo é  facilitar o entendimento da legislação sanitária, muitas vezes de difícil acesso inclusive aos agentes públicos. A legislação inclui normas federais das áreas da agricultura e da saúde, reguladas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Também podem ser acessados, na aba vídeos, tutoriais sobre como implantar uma agroindústria de panificação, farinha, beneficiamento de açaí e outras frutas como cocos e castanhas, pescados, legumes e mais.

Uma inovação do site é também apresentar modelos de plantas de agroindústrias de algumas das cadeias produtivas mais apoiadas pelo Fundo PPP-ECOS, na aba Downloads. “São plantas já construídas e em funcionamento em muitas das comunidades que apoiamos com o Fundo PPP-ECOS, ou seja, agroindústrias que foram planejadas com as comunidades e que estão sendo testadas pelas organizações comunitárias”, explica o coordenador do Programa Amazônia no ISPN, Rodrigo Noleto.

Na aba Legislação está reunido um compilado da legislação sanitária, tratando desde as orientações gerais para a implantação de agroindústrias até boas práticas e uma série sobre cada uma das cadeias produtivas que estão listadas no assistente virtual.

A iniciativa do ISPN partiu da estratégia institucional de promover paisagens produtivas ecossociais, e do Fundo PPP-ECOS, que apoia, há mais de 30 anos, povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares em seus modos de vida que conservam a natureza e geram renda de forma sustentável.

BUROCRACIA 

O coordenador do ISPN Rodrigo Noleto explica que agricultores familiares, indígenas e comunidades tradicionais sofrem com uma excessiva burocracia, que os afasta de agregar valor aos seus produtos, e consequentemente, da viabilidade dos seus empreendimentos. Assim, muitos acabam ficando na informalidade.

“Não é difícil lembrar dos casos em que a legislação sanitária foi massacrante com as iniciativas artesanais e comunitárias, mesmo aquelas que tenham sido regularizadas em municípios ou estados, mas que foram impedidas e tiveram seus produtos descartados em razão do protecionismo de mercado, imposto por uma legislação sanitária voltada à grande indústria e aos alimentos ultraprocessados”, destaca Rodrigo Noleto.

Para exemplificar, o coordenador do ISPN lembra o caso dos queijos artesanais que foram apreendidos durante o evento Rock in Rio, em setembro de 2017, no estado do Rio de Janeiro, mas que tinham regularização sanitária no estado de Pernambuco. “Para o consumidor de Pernambuco, a situação era de legalidade. Já no Rio de Janeiro, o produto foi apreendido e descartado, mesmo adequado ao consumo”, conta. 

Ele explica que isso acontece em razão do protecionismo da legislação sanitária, que dificulta o acesso à regularização para a produção familiar e artesanal. Após esse caso, foi instituída uma lei federal (Lei nº 13.860, de 18 de julho de 2019) que  possibilitou uma maior circulação de produtos artesanais de origem animal para todo o território nacional. Apesar da situação não ter sido resolvida, em parte foi atenuada, abrindo outros caminhos para a agricultura familiar e artesanal

O site AgroIndústria é uma iniciativa do ISPN, com apoio da GIZ, Projeto Bem Diverso e do Fundo Amazônia. Acesse aqui.

Texto: Camila Araujo/Assessoria de Comunicação do ISPN

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