Edilena Krikati na marcha por demarcação de terras indígenas, no 18º ATL (Acervo ISPN/Raisa Pina)

Edilena Krikati na marcha por demarcação de terras indígenas, no 18º ATL (Acervo ISPN/Raisa Pina)

Edilena Krikati na marcha por demarcação de terras indígenas, no 18º ATL (Acervo ISPN/Raisa Pina)

Edilena Krikati na marcha por demarcação de terras indígenas, no 18º ATL (Acervo ISPN/Raisa Pina)

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Edilena Krikati: “O Maranhão é um mundo”

Primeira Secretária-adjunta dos Povos Indígenas do Estado do Maranhão fala sobre o significado de “aldear a política” e sobre a urgência de mais indígenas estarem dentro das instituições públicas de decisão

 

O Abril Indígena tem cara de mulher. No Acampamento Terra Livre (ATL) de 2022, edição que completou maioridade, foram os cocares delas que deram o tom da maior mobilização indígena brasileira. Samantha Ro’otsitsina Xavante, Célia Xakriabá, Josi Kaingang, Nara Baré, Angela Kaxuyana, Puyr Tembé, Sônia Guajajara, Kerexu Guarani e tantas outras mulheres indígenas estiveram à frente da organização do ATL, chamando as delegações, mediando debates e fazendo política. Uma delas é Edilena Krikati, ex-Coordenadora das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima) e primeira indígena a ocupar o cargo de secretária de estado no Maranhão.

A recém-criada Secretaria-adjunta do Povos Indígenas é uma conquista do movimento indígena no estado. Com organização e resiliência, organizações locais conquistaram a criação do Sistema Estadual dos Povos Indígenas do Maranhão, que traz como desdobramentos uma série de melhorias em políticas públicas. Vinda de um estado de transição entre vários biomas e com preocupações específicas, Edilena conversou com o portal do ISPN durante o ATL. Em ano eleitoral, retomando as atividades presenciais após dois anos de Acampamento virtual, a liderança Krikati falou sobre política, eleições e a luta indígena atual dos povos do Maranhão.

Qual a importância de fazer o Acampamento Terra Livre todos os anos?

O ATL é o grande encontro dos povos, das organizações e dos nossos líderes, de todos os biomas. O ATL virou uma marca anual. Ele é simbólico para lembrar da nossa existência, nossa resistência e pautar nossas esferas de governo, além de mostrar ao povo brasileiro que estamos unidos, organizados. O ATL é o maior palco do movimento indígena brasileiro.

O tema deste ano do ATL foi “demarcar territórios e aldear a política”. O que significa “aldear a política?

Significa ocupar os espaços da política. Entendemos que precisamos estar lá. Um de nós precisa estar lá. A gente sempre apostou nos outros, mas amadurecemos. É uma necessidade termos nossos representantes indígenas, colocar nossos líderes lá.

Como é ser a primeira secretária indígena de estado?

É algo novo, um desafio, mas aceitamos. Estamos com força e coragem. É algo inédito, resultado de uma luta coletiva do movimento indígena para mostrar ao governo do Maranhão que é necessária política específica para a gente, para entender nossa realidade, nossa vivência, nossa problemática. O governo não conseguia atuar. A Secretaria-adjunta agora traz o interesse indígena para dentro do Maranhão. Temos os entraves com as demais Secretarias, já que a Secretaria-adjunta não executa as políticas, mas pelo menos temos uma indígena lá para lembrar que existe a pauta indígena e as nossas necessidades. É um marco porque sou mulher, sou indígena e a Secretaria é  apenas uma das conquistas [do movimento indígena no Maranhão].

Quais são as outras?

A criação do Sistema Estadual dos Povos Indígenas do Maranhão e o Estatuto [dos Povos Indígenas do Maranhão]. Com ele, também é criado o Conselho Estadual dos Povos Indígenas, além de um Fundo. Temos um Plano orientador decenal, com todas as demandas e as alternativas, que pode ser atualizado a cada dois anos.

Qual a realidade dos povos indígenas do Maranhão? 

O Maranhão é um mundo. A gente tem Cerrado, Amazônia, Caatinga, Alagados. Da mesma forma que temos vários biomas, a gente tem também diversos povos: em isolamento voluntário, de recente contato, em retomada. Geograficamente a gente está no Nordeste. São 17 Terras [Indígenas], quase 50 mil indígenas. Os troncos dominantes são o Jê e o Tupi. Há vários problemas, empreendimentos, plantação de soja e eucalipto. As TIs estão rodeadas por fazendas, com problemas fundiários e sociais. A questão ambiental no Maranhão também é crítica.

Há reivindicação comum entre os povos do Maranhão?

A principal preocupação dos povos indígenas do Maranhão trazida ao ATL é, além da mineração, o Marco Temporal. Ele pode afetar vários dos territórios que estão passando por regularização fundiária, mesmo os demarcados e os homologados correm risco com o marco temporal. A mineração em terras indígenas também preocupa, porque prejudica nossos povos e o meio ambiente que a gente vive. Essa é a cara do Maranhão.

Qual a expectativa para o ano que vem?

Nossa expectativa é que o Bolsonaro saia e que a gente eleja muitos deputados indígenas nos estados, deputados estaduais e federais. E que a gente possa fazer o plano de futuro mesmo, de ocupar, aldear a política, e demarcar o território Brasil. Entendemos que é isso que temos que fazer.

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