Bolsistas do Programa PIPOU receberam seus computadores como parte do pacote de benefícios ofertados pela iniciativa. Nas fotos: Taís Tupiniquim (à esquerda), Weldelson Guajajara (ao centro) e Jhenifer Tupiniquim (à direita), na ocasião da entrega do equipamento.
Mais uma etapa de implementação do Programa Indígena de Permanência e Oportunidades na Universidade (PIPOU) se concretizou na semana passada, entre os dias 22 a 26 de novembro de 2021, com a entrega dos computadores aos 50 bolsistas selecionados pela iniciativa. Os computadores fazem parte do pacote de incentivos que o Programa PIPOU está oferecendo aos estudantes contemplados no primeiro edital encerrado em setembro de 2021. Além do computador, estão incluídos uma bolsa de estudos no valor de mil reais mensais e acompanhamento aos estudantes. A primeira parcela da bolsa também já foi paga aos universitários.
Fruto da parceria entre o ISPN e a Vale, o Programa PIPOU visa somar forças às iniciativas voltadas para a permanência de estudantes indígenas nas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil, promovendo apoios e incentivos para atenuar as diversas dificuldades enfrentadas no meio acadêmico, tais como: carência de recursos financeiros, ausência de acolhimento, desafios pedagógicos no estudo das disciplinas, entre outras questões. O primeiro edital PIPOU contemplou especificamente estudantes indígenas de povos com os quais a Vale já mantém relacionamento: Gavião (TI Mãe Maria, no Pará); Guajajara (TIs Rio Pindaré e Caru, no Maranhão); Tupiniquim e Guarani (TI Tupiniquim Guarani, no Espírito Santo); e Krenak (TI Krenak, em Minas Gerais).
Na TI Rio Pindaré (MA), a entrega dos computadores aconteceu no dia 26 de novembro de 2021. Na ocasião, o professor Flauberth Guajajara, que também acompanha a vida acadêmica dos estudantes universitários, reforçou que os mesmos precisam manter a dedicação aos estudos. “Sei que vocês estão animados para receber os computadores, mas é preciso fazer tudo isso valer a pena se dedicando bastante aos seus cursos”. A questão levantada pelo professor refere-se ao compromisso dos /as estudantes com o Programa PIPOU em manter um bom rendimento acadêmico.

Se o computador já era importante antes, com a pandemia e as aulas remotas, este equipamento se tornou essencial. Tal questão é mencionada por Taís Cruz dos Santos, do povo Tupiniquim, que faz medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A pandemia levou todas as aulas, trabalhos e outras atividades acadêmicas para o ensino remoto. E esse cenário ainda vai durar mais um tempo, por isso, ter acesso a ferramentas de qualidade, como um computador, facilita bastante a nossa trajetória acadêmica que é cheia de percalços. Com a bolsa e o computador temos preocupações a menos, assim podemos nos concentrar ainda mais nos estudos”, enfatiza.
Outra bolsista do povo Tupiniquim é Jhenifer Benedito de Oliveira Pêgo, que faz Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UnB). A estudante também confirma que, após a pandemia, o computador se tornou um instrumento essencial para continuar os estudos. “O computador ficou absurdamente caro nesse período pandêmico e nós não temos condições de adquiri-lo. Embora algumas universidades tenham projetos de aquisição do equipamento, agora com os valores três vezes mais caro, fica impossível mesmo para essas instituições”, afirma a estudante. Jhenifer avalia ainda que além do computador, a bolsa PIPOU vai contribuir muito para a permanência indígena nas universidades. “Principalmente porque estamos em períodos de cortes nos auxílios financeiros e socioeconômicos aos estudantes que chegam pelas políticas de cotas”, relata.
Estudante do curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual do Maranhão, Weldelson Coelho, do povo Guajajara, também concorda que tanto o computador quanto a bolsa são recursos primordiais na vida acadêmica dos indígenas. “Principalmente no atual contexto político onde vemos a exclusão e a desconstrução de todas as políticas públicas que existiam de ofertas de bolsas aos estudantes de escolas públicas. Essa bolsa e esse computador chegaram num momento muito oportuno”, afirma o estudante.
Juliana Coutinho Cabidelli, do povo Tupiniquim, estudante do curso de medicina da Universidade de Brasília (UnB), reafirma a sua satisfação de ser uma das bolsistas do Programa PIPOU. “Para nós acadêmicos indígenas, que temos trajetórias muito difíceis na universidade, é muito bom fazer parte deste projeto e poder desfrutar o que está sendo oferecido para nós”, afirmou a futura médica.

Muito além do computador e da bolsa
Outro componente importante do Programa PIPOU são as orientações acadêmicas que serão realizadas por professores universitários e especialistas em temáticas das áreas de estudos dos bolsistas. Esse acompanhamento se dará durante a execução dos projetos de intervenção que esses estudantes realizarão nas suas comunidades como parte do Programa PIPOU.
As primeiras reuniões de orientação ocorreram nos dias 23 e 25 de novembro de 2021 e proporcionaram um diálogo inicial entre os/as estudantes com projetos na área de saúde e as professoras Graça Hoefel e Denise Severo do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e do Ambulatório de Saúde Indígena (ASI/HUB). Na ocasião, os/as estudantes apresentaram as suas ideias de projetos e as professoras apontaram pontos de reflexão e sugestões. Kayta Ayala Simões Valdenilson, do povo Gavião, do curso de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), acredita que o programa PIPOU trouxe um leque de oportunidades que vão contribuir para que desenvolvam os seus projetos nas suas aldeias. “Esses projetos vão nos ajudar a repassar para as nossas aldeias o que aprendemos nas universidades, mostrando pros nossos mais velhos como o mundo do kupen (‘brancos’), funciona”, conta Kayta.
Além do apoio e acompanhamento aos estudantes, o Programa PIPOU pretende ainda ampliar a discussão sobre a importância das ações afirmativas nas universidades que ainda não têm essas políticas nos seus horizontes através da promoção de debates entre as IES .
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