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Cerrado e seus povos entram em pauta no Congresso Mundial da Natureza

ISPN e parceiros levaram a savana brasileira para o principal evento sobre conservação ambiental do mundo e alertaram à comunidade internacional sobre a urgência da proteção do Bioma

De 03 a 11 de setembro, o ISPN participou do Congresso Mundial da Natureza da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) com o único stand organizado por uma instituição brasileira. A ocasião foi um momento para reafirmar a importância do Cerrado para os atores socioambientais da comunidade internacional. Realizado em Marselha, na França, o Congresso também aprovou moção que reconhece a importância dos povos indígenas para a conservação ambiental, elegeu uma nova presidenta, premiou Cacique Raoni enquanto membro honorário e, dentre outros feitos para a agenda socioambiental mundial,  afirmou a urgência em se repensar as condutas globais para ser alcançada a justiça climática, luta essa da qual o Cerrado é importante.

O Cerrado também foi o Brasil na França

Com uma área total que consegue ser maior do que Portugal, França, Espanha e Itália juntos, o Cerrado é pouco conhecido dentro e fora do Brasil e o Congresso da UICN comprova como a comunidade internacional ainda é carente de informações e alertas sobre a importância do bioma para o equilíbrio climático mundial.

Sendo o principal tema do único stand coordenado por organizações brasileiras – ISPN, Rede Cerrado e a belga Wervel – o Cerrado desperta curiosidade, surpresas e encantamentos. “Muitos pessoas, de diferentes lugares do mundo, chegam aqui sem nunca terem ouvido falar do bioma, e se encantam com a diversidade de fauna, flora e as riquezas que o Cerrado tem e que contribuem para um planeta mais equilibrado”, comentou Suzanne Scaglia, assessora técnica do ISPN que acompanhou todo o evento e foi uma das vozes em português a levar o Cerrado para terras estrangeiras.

O stand também foi espaço para o encontro entre os brasileiros presentes no evento, de troca de conhecimentos sobre o Cerrado e seus povos e de fortalecimento das relações para incidência em prol do Bioma. Com o espaço criado, fotos, vídeos, mapas e outros produtos sobre essa savana responsável por 5% das espécies do mundo foram apresentados. Muito do conteúdo apresentado pode ser acessado no portal Cerrado Vivo: https://cerradovivo.ispn.org.br/pt_br/

Comunidades tradicionais nos mapas brasileiros e no debate francês

Ainda como programação do ISPN no Congresso, no dia 09, a organização participou de uma Conferência de Imprensa quando o aplicativo para celular “Tô no Mapa” foi apresentado junto com informações sobre a savana mais biodiversa do planeta e dados mais recentes sobre o avanço do desmatamento no bioma. Suzanne e a coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do ISPN, Isabel Figueiredo (de maneira remota), participaram do momento que suscitou interesse e questionamentos sobre os caminhos para a proteção ambiental no Brasil.

Apenas em 2020, uma área equivalente a cerca de 41 cidades de Paris foi desmatada no Bioma, mas um dos caminhos para enfrentar essa problemática foi apresentado à imprensa internacional com o “Tô no Mapa”. Software exclusivo desenvolvido para povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares brasileiros, o aplicativo possibilita o automapeamento das comunidades. “Por meio dessa iniciativa queremos oferecer uma ferramenta para que as comunidades definam seus próprios territórios, contribuindo assim para garantir a governança e a proteção territorial”, comentou Isabel.

Colocar as comunidades no mapa é fundamental para a proteção de seus direitos e existências e isso é estratégico para que o Cerrado continue em pé. Isso porque são esses grupos tradicionais de quilombolas, indígenas, pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu e tantos outros que conseguem viver e produzir ao mesmo tempo em que conservam a natureza. Segundo dados do MapBiomas, os territórios indígenas são as áreas mais conservadas do Brasil, tendo uma perda de apenas 1,6% de vegetação nativa em 36 anos.

Preocupados com a atual situação do Brasil, jornalistas no evento questionaram sobre o real impacto do aplicativo diante de um governo que não possui sintonia com a pauta da conservação e dos direitos dos povos. Diante do questionamento, Scaglia pontuou: “é preciso que continuemos avançando e visibilizando essas comunidades, independentemente do tipo de gestão política. O papel das comunidades é fundamental para o Brasil e o mundo. Se o governo não enxerga isso, a comunidade internacional deve enxergar. O Cerrado é uma pauta mundial”. Acesse aqui o material (em inglês) apresentado durante a Conferência.

Cacique Raoni é a voz indígena premiada durante o Congresso

Ropni Metyktire, o Cacique Raoni, liderança do povo indígena Kayapó, recebeu o título de Membro Honorário da UICN na quarta-feira, 8. A honra é concedida a cada quatro anos como reconhecimento pelo excepcional serviço para a conservação da natureza e dos recursos naturais. Raoni foi homenageado ao lado do ornitólogo de Fiji Richard John Watling, o ambientalista libanês Assad Serhal, e a cientista britânica Jane Goodall.

A indicação de Raoni ao prêmio foi feita pelo ISPN, junto ao Instituto Raoni e a Associação Floresta Protegida, com intenção de ampliar o conhecimento sobre a grande contribuição da liderança para o equilíbrio climático global. “Indicamos Raoni como representante da importância dos Povos Indígenas e das Comunidades Tradicionais para a conservação da natureza”, comentou Fabio Vaz, coordenador-geral do ISPN. A importância desses povos ainda foi reiterada com a aprovação de uma moção durante o Congresso que reconheceu o papel dos povos indígenas para a proteção do meio ambiente.

“Achamos que a contribuição histórica do Cacique Raoni nas lutas pela conservação da natureza e na defesa dos direitos indígenas foi, e continua sendo, fundamental para o campo socioambientalista”, parabeniza o coordenador. Como forma de agradecimento, a liderança Kayapó, que habita uma região de transição entre Amazônia e Cerrado, no estado do Mato Grosso, enviou sua mensagem pedindo o fim da guerra contra indígenas e o fim do desmatamento. Assista, clique aqui. 

Brasil e UICN mais próximos

No Congresso, representantes do Comitê Brasileiro se reuniram no dia 9 com Razan Al Mubarak, a nova presidenta eleita da UICN. Em pauta, esteve o papel fundamental que os biomas brasileiros desempenham como mantenedores da biodiversidade e do clima mundial, as ameaças diárias enfrentadas pelos defensores da natureza – os povos tradicionais, o enfraquecimento das políticas ambientais e estruturas de gestão e qual o papel que a UICN pode desempenhar como articulador de ações que fortaleçam suas instituições-membros no Brasil. Mubarak também já havia recebido do comitê a carta Brazil Matters (acesse aqui). 

“O Brasil está no coração do mundo e eu vou trabalhar para que ele esteja no coração da UICN”, comentou a presidente logo após convidar os membros a trabalharem com ela para fortalecer a União no Brasil e consequentemente, no mundo.

O Brasil conta com 26 instituições-membros da UICN, entre elas o ISPN, que fazem parte do Comitê Nacional e se reúnem periodicamente para pensar em estratégias de potencialização de seus resultados por meio da integração entre as instituições. O Comitê vai continuar trabalhando para fortalecer seu espaço institucional, seus membros e a presença da UICN no Brasil.

Conservar o Cerrado e proteger seus povos é pensar em um planeta equilibrado

Em Marselha, na França, chegou um pouco de ipê amarelo, lobo-guará, árvores de troncos tortos e toda biodiversidade do coração do Brasil. O Cerrado ocupou esse território europeu não só para ser conhecido por suas belezas, mas também para ser reconhecido enquanto bioma fundamental para a política climática mundial. “O Cerrado em pé é uma potência, é vida e, assim como os biomas vizinhos, ajuda no equilíbrio climático. É preciso que os países europeus percebam isso e a importância em investir na sua conservação, na proteção de seus povos”, enfatizou Suzanne

O Congresso Mundial da Natureza encerrou-se no último dia 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, e conseguiu cumprir um importante papel para o olhar ecossocial do planeta: levou para a comunidade internacional a potência socioambiental que é o Cerrado. Para Isabel e Suzanne, agora, é cobrar e continuar com a incidência política em prol da savana mais biodiversa do mundo e seus povos que, antes de tudo, ocupam no mapa importante protagonismo para frear as mudanças climáticas e as atuais ameaças ao equilíbrio do planeta.

Confira aqui a resolução da UICN, proposta pelo ISPN e parceiros, que propõe  o investimento internacional na proteção do Cerrado e seus povos.

 

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