Iniciativa que envolve ISPN, WWF e União Europeia é lançado nesta quarta-feira, 12 de maio; em quatro anos, objetivo é fortalecer comunidades tradicionais do Cerrado e mudar as paisagens produtivas do bioma
O Cerrado é um bioma complexo: faz fronteira de transição para Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal; concentra 5% de toda biodiversidade do mundo; possui populações tradicionais que armazenam conhecimento e é o centro da expansão do agronegócio voltado para exportação. O Projeto Cerrado Resiliente (CERES), lançado nesta quarta-feira, 12 de maio, visa atuar nessa área para fomentar modelos alternativos de desenvolvimento, pautados sobretudo na comunhão entre sustentabilidade e geração de renda, tendo como exemplo os modos de vida das comunidades tradicionais.
A iniciativa é do WWF Brasil, WWF Paraguai, ISPN, WWF Holanda e União Europeia, que injeta mais de 5 milhões de euros para promoção de sistemas agrícolas sustentáveis, uso sustentável da biodiversidade, conservação ambiental e recuperação de áreas degradadas no bioma que concentra as atenções do acordo Mercosul-UE. Para o Embaixador da UE no Brasil, Ignacio Ybáñes, a iniciativa é um exemplo particular que vai trabalhar com a exportação agrícola e com atividades familiares, para aprender com esse processo. “A ideia é mirar como este projeto afeta outros, apoiando cultivos diferentes e [observando] como eles se complementam. Para o monocultivo prosperar, o pequeno tem que existir”, pontua.
Em sintonia com as ações do CERES, a agricultora familiar do Mato Grosso do Sul, Rosana Claudina, conta que o Cerrado é estratégico para a sustentabilidade do Brasil e do mundo. Em uma fala que reuniu vários elementos que reafirmaram a potência dos povos do Cerrado, a agricultora salientou a importância de se valorizar o modos de vida dessas populações, que são essenciais para a produção de alimentos e proteção da biodiversidade. “Queremos um desenvolvimento que produza vida, que produza alimento. Porque o caminho da sustentabilidade não é fácil, mas nos garante a vida”
Recuperação verde
Para a Delegação da União Europeia, assim como para o ISPN, fortalecer as comunidades tradicionais é uma forma eficiente de conservação. O projeto também conta com um forte braço de incidência política (advocacy), para geração de dados e transparência sobre o Cerrado que podem fortalecer as organizações da sociedade civil.
O evento virutal de lançamento do CERES contou com painéis que destacaram as peculiaridades do Cerrado e do projeto já em execução. Stefan Agne, chefe de Cooperação da Delegação do Brasil, destacou os objetivos de promover paisagens de desenvolvimento rural, mitigar as mudanças climáticas e usar a biodiversidade para o que ele chama de “recuperação verde”.
Experiência PPP-ECOS
Oitocentos mil euros serão destinados para pequenos projetos no Cerrado, que serão destinados a associações comunitárias por meio de editais do PPP-ECOS, iniciativa gerida pelo ISPN há mais de 20 anos. O primeiro edital terá caráter emergencial e tem lançamento previsto para início de junho de 2021, voltado para ações de fortalecimento de empreendimentos da sociobiodiversidade para fazer frente à crise relacionada à pandemia de Covid-19.
Coordenador Executivo do ISPN, Fabio Vaz ressalta que a estratégia da organização – que tem o PPP-ECOS como linha mestre – foca o apoio às organizações comunitárias, em especial aos povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares, fomentando iniciativas econômicas locais de extrativismo ou recuperação de áreas. “Essa é uma das mais efetivas estratégias para a conservação e combate às mudanças climáticas, e o Cerrado tem papel fundamental para o país e para o mundo”, diz.
À frente do projeto pelo ISPN, Isabel Figueiredo, Coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga, comenta que o uso sustentável do baru, babaçu, buriti e mel de abelhas nativas terão atenção especial no CERES. “Estes alimentos são patrimônio. Nossa estratégia para manter o Cerrado em pé passa pela geração de renda para as comunidades e pelo combate à insegurança alimentar”, compartilha.